Premiado e reconhecido como um dos melhores do mundo, o mel de Santa Catarina continua de excelência na safra 2019/2020. Saborosa e em maior quantidade, a produção atual já é considerada acima da média e deverá superar as 6,5 mil toneladas. Em 2018/2019 foram colhidas cerca de 5,8 mil toneladas. A estimativa é apontada pelo levantamento feito pela Epagri e Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores de Santa Catarina (Faasc) junto aos produtores do estado.
Este ano, um fator climático, em especial, ajudou os apicultores. “O tempo mais seco permite que as abelhas saiam mais das colmeias e diminui a umidade do néctar, aumentando o rendimento no favo e as abelhas gastam menos energia para desidratá-lo. Quando chove bastante, as abelhas não saem da colmeia, consumindo o mel estocado e há mais riscos de perda de qualidade do produto na colheita”, explicou o chefe da Divisão de Estudos Apícolas da Epagri, Rodrigo da Cunha.
Além disso, segundo da Cunha, Santa Catarina tem uma série de fatores que, naturalmente, favorecem o cultivo de um mel diversificado e até mais puro. Estas características diferenciam o produto catarinense que já conquistou outros países. São pelo menos seis premiações em concursos internacionais como melhor mel do mundo.
Ao contrário de algumas lavouras, as áreas de relevo acidentado podem ser exploradas pela apicultura. “Isto acaba se transformando em outra vantagem, porque as colmeias ficam distantes de fontes de contaminação. O resultado é um mel mais limpo, bom, inclusive, para o aproveitamento orgânico”, acrescentou da Cunha.
A soma de todos estes fatores e o cultivo de uma tradição que passa de pai para filhos dão identidade à apicultura catarinense. Ela é tão singular que em Santa Catarina já são produzidos 100 tipos diferentes de mel e não só a partir da polinização das flores.
Foto: Aires Mariga / Arquivo / Epagri
Nos anos pares, como 2020, os apicultores de Santa Catarina têm um tipo diferente de mel para colher: o melato de bracatinga. Comum na região do Planalto Sul do Brasil, Santa Catarina fica com a maior porção da produção. O mel de melato é produzido pelas abelhas a partir da coleta de secreções de partes vivas de plantas ou de excreções de insetos que se encontram sobre estas plantas.
Em Santa Catarina, as abelhas produzem o melato a partir das excreções de um inseto chamado cochonilha, que infesta as árvores de bracatinga, normalmente entre os meses de janeiro e junho. O mel de melato de bracatinga é um dos principais méis produzidos no estado, tradicionalmente, a cada dois anos, período em que corresponde ao ciclo de vida da cochonilha.
O mel de melato de bracatinga é classificado como de característica única, não cristaliza e é de cor escura. Para o consumo humano, além de excelente qualidade nutricional é rico em ácidos com propriedades de ação anti-inflamatória e antioxidante.
Foto: Divulgação / Epagri
Com toda esta diversidade e o empenho do produtor rural, o Governo do Estado, por meio da Epagri, atua em apoio aos apicultores catarinenses, com trabalho de orientação técnica voltado ao aumento da produtividade e, consequentemente, da valorização dos produtores. Segundo a presidente da empresa, Edilene Steinwandter, dos cerca de nove mil produtores no Estado, pelo menos seis mil são atendidos pela Epagri.
“Somente em 2019, prestamos mais de 15 mil atendimentos aos produtores catarinenses de mel. Buscamos sempre a melhor orientação, as melhores técnicas, pensando na alta produtividade e na aproximação entre o produtor e o consumidor com qualidade de excelência”, salientou.
Ao mesmo tempo em que o trabalho técnico avança, há um esforço conjunto envolvendo a participação de outras instituições como a Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores de Santa Catarina (Faasc) e Sebrae/SC para vencer desafios envolvendo questões de mercado, fiscalização e valorização do pequeno produtor.
No âmbito da fiscalização, é fundamental que o mel e os produtos derivados tenham procedência certificada e inspeção dos órgãos sanitários autorizados para serem comercializados. “Ao contrário do mel de qualidade garantida, a produção clandestina e o produto falsificado oferecem riscos à saúde da população”, alerta o chefe da Divisão de Estudos Apícolas da Epagri, Rodrigo da Cunha.
A safra deste ano também foi boa, mas as vendas, em tempos de pandemia, diminuíram. Seu Osvaldino tem esperança que, em breve, a situação vai melhorar, enquanto isso pratica o que aprendeu nos mais de 40 anos dedicados à apicultura.
“Cuidar de abelhas exige coragem, paciência e disciplina. Aprendi isso com elas e, mais do que nunca, isso se aplica à vida e ao momento que estamos passando”, conta o apicultor.
O aprendizado ao lado da natureza também traz outros significados para a produção de seu Osvaldino. Ele destaca a importância do cooperativismo, para que, assim como ele, outros apicultores tenham bons resultados com a atividade. “Ser apicultor é não desistir, é ensinar o que sabe ao outro, é ajudar, assim como a abelha trabalha para todos da sua colmeia”, compara.
Para os desafios da produção e da vida, seu Osvaldino aposta em trabalho com amor, persistência, união e mel para manter a saúde e a imunidade em dia.
“A grande satisfação em produzir mel é saber que com o nosso trabalho, as pessoas podem desfrutar de um alimento saudável e nutritivo. Já vale muito”.
O amor e a dedicação de pequenos produtores como seu Osvaldino são ingredientes que estão na essência da apicultura de Santa Catarina. Uma das formas de reconhecer e homenagear o trabalho de milhares de produtores é a Feira do Mel, que está diferente em 2020.
A modalidade agradou o produtor Joel de Souza Rosa, de São Joaquim, que já registra aumento nas vendas. “Este ano a feira é nacional. Tenho recebido pedidos até de outros estados”, comemora. Ao todo, participam 32 feirantes de todas as regiões produtoras do estado.
Para comprar os produtos da feira que vai até o dia 31 de julho, basta acessar o site www.faasc.com.br/feiradomel. Ao selecionar a cidade onde mora, são apresentados os itens disponíveis e o contato do produtor que poderá fazer a entrega.