O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, afirmou nesta sexta-feira (14), que um possível distanciamento do Brasil com a China e os países árabes em razão de declarações do presidente eleito Jair Bolsonaro pode ser prejudicial ao agronegócio brasileiro. Blairo convocou a imprensa na manhã desta sexta para fazer um balanço de sua gestão à frente da pasta, que se encerra em 31 de dezembro.
Assim que foi eleito presidente da República, Bolsonaro criticou o avanço chinês em negócios dentro do Brasil e também disse que pretende transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, iniciativa que é interpretada como uma afronta por parte dos países árabes.
Em meio à entrevista coletiva, o ministro da Agricultura ressaltou que as exportações do agronegócio devem ultrapassar, em 2018, a barreira dos US$ 100 bilhões.
"Será a primeira vez que o agronegócio vai ultrapassar a barreira dos US$ 100 bilhões. Já exportamos US$ 99 bilhões em 2013", enfatizou.
Segundo Blairo, a manutenção dos mercados chinês e árabe é um ponto de atenção para o setor agropecuário. O titular da Agricultura destacou que quase 50% das exportações brasileiras de frango têm como destino os países do Oriente Médio.
“Nós não temos essa questão geopolítica. Não temos essa vontade de ser o líder do mundo. Não temos condições de ser o líder do mundo, então porque vamos fazer enfrentamentos dessa ordem? Em torno de 50% das exportações brasileiras de frango vai para países árabes. Você perder isso, significa problemas para as nossas empresas”, afirmou o ministro durante a coletiva de imprensa ao fazer um balanço da sua gestão.
Blairo Maggi afirmou aos jornalistas que, em conversas recentes com a futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina, comentou da importância de manter as visitas internacionais e as negociações para abrir novos mercados para os produtos brasileiros.
De acordo com o ministro da Agricultura, o Brasil conseguiu abrir mercado nos últimos dois anos e meio para 78 produtos brasileiros em 30 países.
"Abrir novos mercado e manter os mercados que nós temos. Uma presença permanente na China. Eu fiz seis viagens à China nesse período que estou aqui. Ir a China conversar é muito importante. Chineses, árabes, essa turma gosta muito que você esteja presente, conversar olho no olho", disse.
Soja dos EUA
Blairo Maggi também foi indagado pelos repórteres sobre se o Brasil estaria preparado para o fato de a China eventualmente retirar a tarifa que cobra sobre a soja dos Estados Unidos para minimizar os efeitos da guerra comercial entre os dois países. Segundo o ministro da Agricultura, o Brasil está "absolutamente preparado" para esse eventual cenário.
Com a tarifa chinesa de 25% aplicada sobre a soja dos Estados Unidos, o Brasil exportou volumes recordes do grão neste ano, principalmente, para o país asiático.
"A retirada do imposto pela China não vai influenciar em nada. Vai ser um mercado que vai voltar a patamares que estavam antes ou muito próximos", declarou o titular da Agricultura.
O ministro disse ainda que a manutenção do preço da soja no Brasil foi ruim para o agronegócio como um todo, porque a base de preço maior do que a soja americana encarece insumos agrícolas, como a ração. "A volta à normalidade só traz benefício", acrescentou.
Frete da Cohab
O presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Francisco Marcelo Rodrigues Bezerra, também participou da entrevista coletiva organizada pelo Ministério da Agricultura.
A Conab é uma empresa estatal vinculada ao Ministério da Agricultura que executa programas sociais ligados à agricultura familiar. Entre outras ações, a companhia forma estoques públicos de milho para abastecer pequenos criadores com ração animal a preços compatíveis com os de atacado.
Questionado sobre o cumprimento da cota que destinou 30% do transporte da Conab para produtores autônomos, Bezerra disse que não houve demanda por parte dos transportadores autônomos e que a procura ficou abaixo dos 30%.
A determinação para que 30% dos fretes da Conab sejam feitos por caminhoneiros autônomos foi uma das medidas anunciadas pelo governo federal para atender as reivindicações dos caminhoneiros, durante a greve ocorrida este ano.
"Eles pouco têm demandado. Até agora, só uma cooperativa procurou a Conab", declarou o presidente da Conab.
“Isso é uma prova de que não adianta interferir no mercado”, complementou o ministro da Agricultura.