Cercada por montanhas, a cidade de Santa Rosa do Sul, localizada a 10 quilômetros de Sombrio, possui um trânsito quase inexistente e tem casas com muros baixos. Alguns dos 8,3 mil habitantes inclusive dispensam o uso de cerca e tem pátio aberto. Todo esse cenário pacato do município com economia agrícola, baseada no plantio de banana e mandioca, passou a ser perturbado pela presença, desde 2018, de membros da facção gaúcha, com base no Vale dos Sinos, que tem se alastrado pelo sul catarinense.
Os dois únicos homicídios registrados nos últimos três anos (2017, 2018 e 2019) foram protagonizados por membros da organização. Segundo a polícia, os assassinatos, que aconteceram em 2018, aconteceram porque traficantes que já atuavam na cidade antes da facção chegar, foram recrutados para trabalhar pelo grupo e teriam resistido:
— Os dois se negaram a ingressar na facção e foram mortos. Era aquela história: ou entrava para facção e vendia a droga para eles ou paravam. Eles não pararam e não se integraram. Foram mortos — resume um policial da cidade.
Segundo o delegado André Coltro, até o grupo chegar, Santa Rosa do Sul tinha histórico de pequenos grupos que abasteciam poucos fornecedores. Os raros assassinados registrados na cidade tinham motivações passionais, por desentendimento pontual, nunca vinculados aos tráfico de drogas, frisa o delegado:
— E os crimes aqui tiveram o mesmo perfil de Sombrio: foram durante o dia e vinculados a esse grupo. Algo completamente incomum para a cidade, pelo tipo de execução e o curto espaço de tempo.
Os criminosos não só dominaram o comércio de drogas da pequena cidade e protagonizaram mortes como também demarcaram território. Um Fusca desmontado em frente a uma casa no Centro da cidade possui pichação com o nome do grupo. No bairro Parque Rosita há, segundo a polícia, pelo menos quatro pontos de venda de narcóticos.
Um empresário gaúcho que vive há 38 anos em Santa Rosa do Sul conta que a rotina não é mais a mesma. Nos últimos dois anos, após as notícias de assassinatos ali e nos municípios vizinhos, ele cercou o pátio e instalou alarme em casa:
— Até pouco tempo a gente dormia de janela aberta. Agora, é tudo chaveado. É muita gente estranha circulando na cidade — admite.
A comunidade se une em grupos de WhatsApp ajudando a monitorar movimentações suspeitas, já que a tranquilidade do passado foi interrompida.
Aumento da violência
Cinco das oito cidades onde a facção está estabelecida registraram aumento no número de homicídios em 2019, na comparação com o ano anterior: Sombrio, Balneário Gaivota, Araranguá, Passo de Torres e São João do Sul. Os números da Secretaria de Segurança Púbica (SSP) de SC vão na contramão dos indicadores do Estado catarinense, onde o índice de assassinatos recuou 10% no mesmo período _ de 775 vítimas em 2018 para 692 em 2019.