Compradores das carnes desviadas da Afasc começaram a procurar a Polícia Civil para agregar informações e até devolver o produto. "Vários, de boa fé, que fizeram a compra, vieram até a delegacia ou ligaram dizendo que tinham comprado carne tanto da nutricionista quanto da receptadora denunciadas", confirma o delegado Túlio Falcão, responsável pelas investigações. "Vários dos que ligaram informaram ainda quantos quilos adquiriram, fomos até locais apanhar ou eles vieram até a delegacia trazendo as carnes de pronto", informa. A nutricionista da Afasc e a taxista citadas no processo seguem em liberdade.
O fato novo da sexta-feira envolveu a prisão de um receptador dentro da Operação Bocas Famintas, assim intitulada pela Polícia Civil. Trata-se do proprietário de um restaurante no Bairro Universitário, em Criciúma. "Um investigador teve a informação de que um restaurante em Criciúma estava distribuindo essas carnes com medo da ação policial. Ele ordenou que as funcionárias retirassem os rótulos das carnes, especificamente das vendidas em paletas e cubos, para retirar o rótulo e acondicionar, pois elas seriam vendidas durante a noite", detalha o delegado. "Hoje cedo os policiais foram ao local, fizeram campana e verificaram o lixo do estabelecimento com 81 rótulos dessas carnes que o proprietário ocultou para a venda", observa.
A partir daí, uma operação conjunta com a Vigilância Sanitária foi desenvolvida. "Apreendemos 70 quilos de carne que estavam acondicionadas de forma irregular, em sacos, que ele usaria para venda e distribuição no restaurante. Demos voz de prisão em flagrante por receptação", destaca Falcão. O receptador confirmou que essas carnes haviam sido compradas da mesma fonte que desviava os produtos da Afasc. "Foi comprovado o dolo dele por saber se tratar de produto de crime e, mesmo assim, armazenava para a venda", reforça. A carne era servida também pronta para consumo no restaurante.
O delegado coloca ainda que, pelos recentes indícios colhidos, os compradores que vieram à tona nos últimos dias adquiriam as carnes junto à nutricionista. "Sim, com a funcionária, e não com a receptadora", diz. Além da Afasc, as carnes podem ter outras origens. "Além do desvio da Afasc tem instituições públicas de onde era retirado o alimento de dentro dessas instituições. Mas as investigações prosseguem. Assim como investigamos os receptadores estamos investigando também algumas instituições. É outra fase da investigação, estamos diligenciando", pondera.
A investigação apurou, ainda, que há mais tipos de carnes fazendo parte do esquema de receptação. "São três produtos, carne moída bovina, carne em paletas e carne de frango, peito e outra peça de frango. A carne mais específica que era entregue era a paleta de carne moída. De acordo com o fabricante, 99,9% dessa carne não é muito consumida em mercados, é vendida em grande estoque e o maior fornecimento que ele tinha era para a Afasc, para as merendas das crianças", relata.