Mais acentuada ainda foi a queda na curva da rejeição: caíram de 44% para 34% os que o consideravam ruim e péssimo no período. Consideram o governo regular, por sua vez, 27%, ante 23% em junho.
O instituto entrevistou por telefone 2.065 pessoas nos dias 11 e 12 de agosto. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou menos.
Na manhã desta sexta-feira, o presidente, antes sempre crítico às pesquisas do Datafolha, desta vez usou a tática do morde e assopra ao compartilhar a notícia sobre o avanço de sua aprovação: "Verdade, meia verdade ou fake news? Bom dia a todos", afirmou Bolsonaro em uma rede social.
A mudança do humor da população ocorreu concomitantemente à maior alteração na persona pública de Bolsonaro desde que ele saiu da obscuridade como parlamentar de baixo clero e chegou à Presidência no ano passado.
O presidente passou o primeiro semestre em um crescente embate institucional, que chegou ao paroxismo com sua participação em atos pedindo o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.
Em junho, a crise amplificou-se, com rumores alimentados por notas oficiais acerca de intenção de uso das Forças Armadas e com críticas a decisões que contrariavam o Planalto no Judiciário.
Ao mesmo tempo, o presidente liderava o ataque direto às políticas de isolamento social da pandemia da Covid-19, que no começo classificara de "gripezinha".
Aos poucos, a tensão levou a especulações nos meios políticos sobre um eventual impeachment do presidente. Isso o fez mudar de rumo no Congresso, aliando-se a partidos do centrão que antes espezinhava, dando cargos e verbas em troca de apoio.
Mas o ponto de inflexão é 18 de junho, quando é preso Fabrício Queiroz, ex-assessor de seu filho Flávio, investigado no caso das "rachadinhas" e elo entre o gabinete do hoje senador e milícias no Rio de Janeiro.
Com a pesquisa de junho indicando estabilidade em sua avaliação, apesar de estrago visível do caso Queiroz, Bolsonaro submergiu.
Moderou suas declarações contra adversários e parou de dar corda a apoiadores radicais que o esperam à porta do Palácio da Alvorada.
Antes desta rodada do Datafolha, a melhor pontuação do presidente havia sido 33% de ótimo e bom, taxa registrada em duas pesquisas. Já a rejeição voltou ao patamar dos seis primeiros meses de mandato, em torno de 30%.
O empate entre aprovação e rejeição reverte, na fotografia desta pesquisa, a tendência de polarização assimétrica registrada nas anteriores durante a crise política.
O presidente também contraiu a Covid-19, o que não mudou sua propaganda de minimizar a doença. Mas o programa de auxílio emergencial à população mais carente ganhou passo, e o governo amplificou a visibilidade de ações no reduto oposicionista do Nordeste. O resultado parece visível.
Segundo o Datafolha, a rejeição a Bolsonaro caiu de 52% para 35% na região, na qual mantém a pior avaliação: 33% de ótimo e bom, subida de seis pontos em relação a junho. A correlação com a distribuição do auxílio de R$ 600 é sugerida, ainda que não direta.
Entre quem fez o pedido e o recebeu, 42% acham Bolsonaro ótimo e bom, ligeiramente acima da média geral. Só que 36% dos que não fizeram também acham isso.
No Nordeste, onde vive 27% da população, 45% dos moradores recorreram ao instrumento, ante 40% no país todo.
Tão ou mais importante, Bolsonaro também melhorou seu desempenho no Sudeste, região mais populosa do país. Ali, sua aprovação subiu de 29% para 36%, enquanto a rejeição caiu de 47% para 39%.
Continua sendo mais bem avaliado nos redutos do Sul e Norte/Centro-Oeste, onde amealha 42% de ótimo e bom. Uma das quedas mais significativas na rejeição ao presidente ocorreu entre os mais jovens (16 a 24 anos). Nesse grupo, o ruim e péssimo foi de 54% para 41%.
Grupos que rejeitavam mais Bolsonaro também viram quedas no índice, mas menor: pessoas com curso superior (53% para 47%) e mais ricos (acima de 10 salários mínimos mensais, 52% para 47%).
Já a aprovação presidencial segue o padrão anterior ao apontar homens e pessoas de 35 a 44 anos como as mais satisfeitas.
Há homogeneidade nova no quesito quando o tema é a renda familiar. Dos quatro estratos analisados pelo Datafolha, Bolsonaro tem 40% de ótimo e bom em três, caindo cinco pontos entre os mais pobres (até 2 salários mínimos).
Ele segue sendo mais bem avaliado entre empresários (58%, ante 51%) e viu sua rejeição de 67% cair para 56%, ainda a recordista por segmentos, entre estudantes.
Com tudo isso, Bolsonaro deixou o posto de presidente mais mal avaliado desde a redemocratização nesta fotografia de momento do primeiro mandato.
A infame distinção volta a Fernando Collor, que tinha 41% de ruim e péssimo e 18% de ótimo e bom com um ano e seis meses de governo em 1991.
Bolsonaro, contudo, segue em segundo lugar na rejeição neste recorte de presidentes, mais mal avaliado do que Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT).
Ele também segue sendo considerado inconfiável pela população, ainda que tenha atenuado a má impressão.
Segundo o Datafolha, nunca confiam no presidente 41% dos brasileiros, enquanto 22% sempre confiam e 35%, confiam às vezes.
Em junho, esses índices estavam em 46%, 20% e 32%, respectivamente, segundo aferiu o Datafolha.
Bolsonaro inspira mais confiança entre homens, pessoas de 35 a 44 anos e quem ganha entre 5 e 10 salários mínimos.
Já desconfiam mais do presidente mulheres, jovens e quem tem o ensino superior.
No corte racial, o presidente é mais bem avaliado entre quem se declara branco ou amarelo (40%), oscilando para 37% entre pardos e caindo para 25% entre pretos.
A pesquisa telefônica, utilizada neste estudo, representa o total da população adulta do país.
As entrevistas são realizadas por profissionais treinados para abordagens telefônicas e as ligações feitas para aparelhos celulares, utilizados por cerca de 90% da população.
O método telefônico exige questionários rápidos, sem utilização de estímulos visuais, como cartão com nomes de candidatos, por exemplo.
Assim, mesmo com a distribuição da amostra seguindo cotas de sexo e idade dentro de cada macrorregião, e da posterior ponderação dos resultados segundo escolaridade, os dados devem ser analisados com alguma cautela por limitar o uso desses instrumentos.
Na pesquisa, feita assim para evitar o contato pessoal entre pesquisadores e respondentes, o Datafolha adotou as recomendações técnicas necessárias para que os resultados se aproximem ao máximo do universo que se pretende representar.
Todos os profissionais do Datafolha trabalharam em casa, incluídos os entrevistadores, que aplicaram os questionários através de central telefônica remota.
Foram entrevistados 2.065 adultos que possuem telefone celular em todas as regiões e estados, em 11 e 12 de agosto. A margem de erro é de dois pontos percentuais.