Acordar, tomar café da manhã, preparar-se para o trabalho e sair de casa. Mesmo com aumentos de casos durante a pandemia de coronavírus, diversas cidades pelo mundo, como Brasília, começaram a organizar as políticas para afrouxar o distanciamento social. Atualmente, o ritual de afazeres diários ganha mais um item indispensável na hora de deixar o lar: a máscara de proteção facial. Para complementar o look, algumas pessoas estão apostando em acessórios junto à peça de proteção. Contudo, há riscos.
Vem comigo entender a polêmica!
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As famosas cordinhas de óculos fizeram sucesso em 2019. Agora, estão retornando de uma maneira nada convencional, e até perigosa. As sicurezzas marcam presença em máscaras comercializadas por diversas marcas e também são vistas nas redes sociais.
Seguindo o modismo, etiquetas como Éliou, SecondWind, AARYAH, Donni e The Good Bead lançaram coleções com o enfeite. No Brasil, a label de acessórios Fruta também embarcou no hype e desenvolveu cordinhas multicoloridas. Porém, o novo adorno tem gerado preocupação em especialistas da saúde.
Apesar de ser um charme e trazer personalidade ao visual, o uso das cordas pode aumentar o risco de contaminação pelo novo coronavírus. É o que alerta a médica patologista Natasha Slhessarenko, do Laboratório Exame, em entrevista à coluna. “Atualmente, tem se falado muito sobre higienização. As cordinhas funcionam como um adereço, mas podem acumular sujeira, assim como tocar em partículas virais com os anéis. Você pode acabar deixando o vírus ali na superfície”, explica.
A médica patologista enfatiza a relevância do uso da máscara. “É um equipamento de proteção individual (EPI), amparando também quem está por perto. Ainda estamos sem medicamento e vacina, temos que evitar que a doença seja transmitida e que propague”.
“Já foi provado que o vírus Sars-CoV-2 é transmitido por gotículas que ficam suspensas no ar por pelo menos três horas. Se estamos respirando sem a proteção de máscaras, podemos inalar, ou se alguém tossir sem o mínimo de etiqueta respiratória”, completa a profissional.
Em Brasília, o uso da máscara se tornou obrigatório desde 30 de abril, mas devido à chegada da Covid-19 ao Brasil no início do ano, o item já tinha começado a ser utilizado em lugares públicos por grande parte da população. Goste ou não, a proteção facial é tão importante quanto higienizar as mãos na luta contra o coronavírus.
Com a cordinha, a intenção é injetar estilo aos protetores faciais. Além de proporcionar o efeito visual de um colar, a proposta também vende a ideia de ser “funcional”. Teoricamente, permite que o usuário retire a máscara para comer, por exemplo.
Todavia, a médica Natasha Slhessarenko não recomenda a prática. “O lugar da máscara é no rosto, cobrindo o nariz e a boca. Deve-se tomar muito cuidado ao retirar e colocar o item. E jamais segurar a peça pela frente, porque é uma área suja. É arriscado deixá-la pendurada no pescoço durante uma refeição, por exemplo, pois pode aproximar do alimento”, explica a especialista.
Marcas têm ignorado o risco de contaminação e estão lançando as suas próprias versões. A busca no Google pelas cordinhas de máscaras aumentou cerca de 30% de junho para julho. Os modelos não seguem um padrão específico e, geralmente, são compostos por correntes em metais, pedras preciosas, linhas coloridas de tecido e até plástico interligando os elos.
Um estudo recente publicado pelo The New England Journal of Medicine comprovou a eliminação do Sars-CoV-2 em quatro horas após ser colocado em uma superfície de cobre. Já outra pesquisa, realizada pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), comprovou que a prata inativa 99,9% do vírus responsável por causar a Covid-19 em apenas dois minutos de contato.
Contudo, mesmo sendo feita de prata ou cobre, a cordinha em máscaras não é recomendada. Além dos riscos já demonstrados, vale destacar que, dependendo da matéria-prima que compõe o acessório, além de acumular sujeira e poder ser um vetor de contaminação, é possível manter vírus e bactérias ativos por diferentes períodos de tempo.
Durante as refeições, se não for possível estar em casa, Natasha Slhessarenko aconselha reservar a máscara em um saquinho plástico ou de papel e redobrar o cuidado com a higiene, além de evitar tocar no rosto, boca e nariz. “Isso vai além da estética. Devemos nos preocupar com a proteção pessoal e coletiva. Acredito que as máscaras passarão a ser usadas mundialmente, enquanto tivermos esse vírus e com os próximos que virão. Precisamos desenvolver uma nova maneira de nos relacionarmos com o mundo e com as pessoas”, sugere a médica.
Mesmo com o aumento exponencial dos casos e mortes decorrentes da doença, o comércio voltou a funcionar em vários locais. Porém, vale lembrar dos cuidados indispensáveis. Na última semana, a universidade de Oxford, na Inglaterra, publicou um estudo que reforça o uso de máscaras, e ressalta a importância do distanciamento social. De acordo com a pesquisa, as medidas de segurança podem minimizar a contaminação do vírus e também diminuem o número de pessoas que desenvolvem complicações da Covid-19.
Colaborou Sabrina Pessoa