A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) aprofundou a investigação sobre o caso envolvendo o “Homem Pateta”, perfil das redes sociais acusado de induzir crianças e adolescentes ao suicídio. A Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) agiu rapidamente e conseguiu preservar o perfil usado pelo suspeito para trocar mensagens ameaçadoras com uma criança brasiliense de 10 anos.
O próximo passo da apuração é identificar de onde partiram as frases, em inglês, enviadas por meio do Instagram.
A DPCA recebeu informações repassadas pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) de que o autor do perfil original seria italiano e já estaria preso naquele país. A suspeita da especializada é de que a pessoa por trás das mensagens trocadas com o garoto seja um clone do “Homem Pateta” italiano.
Os policiais identificaram que dezenas de perfis do personagem foram criados em diversas redes sociais. São páginas que podem ter sido produzidas em qualquer lugar do mundo.
De acordo com fontes policiais ouvidas pela reportagem, estaria ocorrendo um fenômeno parecido com a “Baleia Azul”, espécie de jogo sombrio em que a tarefa final consistia em cometer suicídio. “Na maioria dos casos, são perfis fakes que não têm ligação com o primeiro Homem Pateta, o verdadeiro. Por esse motivo, estamos trabalhando para localizar o assinante desta conta específica usada para entrar em contato com uma criança do DF”.
O Metrópoles procurou a DPCA oficialmente para falar sobre o assunto, mas a unidade preferiu não se manifestar e manter a investigação sob sigilo.
A família da cirurgiã-dentista Camille Vanini, 36 anos, passou por uma experiência traumática. Tudo começou no último sábado (27/06), quando o filho dela viu reportagens sobre o Homem Pateta, que estaria incentivando crianças a cometer suicídio. O garoto de 10 anos, que não tem rede social, pegou o celular da mãe no momento em que ela dormia e, por meio do Instagram de Camille, passou a enviar mensagens a um dos perfis referentes ao personagem.
O homem, que se comunicava em inglês, conversou com a criança. Durante o diálogo, ele dava um tempo para que as respostas fossem enviadas. O suspeito exigia que o menino permanecesse conversando durante o dia todo. Como ficou tarde, a criança acabou dormindo.
A mãe conta que pegou a mensagem no celular e levou um susto. “Estou estudando durante todo o dia, não consegui ver o noticiário. Confesso que não fazia ideia do que era o Homem Pateta. Quando vi que alguém estava mandando mensagem, a primeira reação que tive foi pedir desculpas. Afirmei que o meu filho estava com o celular e que ele não deveria incomodar as pessoas. O grande problema foi quando o homem respondeu”, detalhou Camille.
A família já morou no exterior e todos da casa falam inglês. Foi nesse idioma que mãe e filho se comunicaram com o perfil falso. O homem, ao ler a justificativa da dentista, enviou uma mensagem ameaçadora: “Deixa ele jogar comigo. Logo depois você o verá morto. Cuide do seu filho ou eu vou fazê-lo se matar”.
Esta não é a primeira vez que o uso das redes sociais se torna uma ameaça a meninos e meninas, preocupando pais e responsáveis. Em 2017, o desafio “Baleia Azul”, surgido em uma rede social russa, viralizou entre jovens e foi associado a uma onda de suicídios entre crianças e adolescentes.
Não é só a Polícia Civil do DF que está com o Homem Pateta na mira. O Ministério Público Federal foi acionado para investigar o perfil. O pedido partiu do vice-presidente da Câmara Legislativa do DF, Rodrigo Delmasso (Republicanos), que solicitou ainda a retirada do conteúdo da internet e multa de R$ 1 milhão ao responsável: o valor será revertido a instituições que cuidam de crianças e adolescentes abandonados.
Além disso, o Facebook Brasil está ciente do caso e vem tomando providências nesse sentido. “Páginas falsas ou com conteúdos que incentivem a automutilação estão sujeitas à remoção. A rede social também disponibiliza o seu Portal para Mães e Pais, com dicas para o uso e segurança na internet”, declarou a empresa ao Metrópoles, por meio de nota.
Além de cruel, esse tipo de conduta é considerado crime no Brasil. De acordo com a Lei nº 13.968, aprovada no ano passado, induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação pode gerar pena de 6 meses a 6 anos de prisão.