Há uma polêmica a respeito de qual seria o segundo esporte mais popular do mundo, por critérios como os valores movimentados, o número de praticantes amadores, a audiência ao redor do globo, os rendimentos dos atletas. Por cada um desses parâmetros há uma resposta, desde o futebol americano, que movimenta milhões de dólares em suas finais, até o críquete, quase desconhecido no Brasil, que tem legiões de aficionados no populoso sul da Ásia.
De qualquer maneira, não há a menor dúvida a respeito daquele que é de longe o esporte mais popular segundo todos os critérios: o nosso futebol. A Copa do Mundo do Catar deve render à Fifa, entidade que a organiza, algo como R$ 25 bilhões em patrocínios e venda de direitos de transmissão. Estimativas da liga sul-americana dão conta de que nada menos do que 265 milhões de pessoas estão ativamente ligadas ao futebol, além dos torcedores, que são quase um terço da população do planeta. Não é de surpreender, portanto, que num momento no qual a Inteligência Artificial (A.I.) revoluciona todos os campos da atividade humana, das ciências às artes, do ensino ao lazer, que o esporte mais praticado passe também por uma revolução informacional. Dois fenômenos dão conta dessa aproximação, e foram relatados recentemente.
O primeiro deles refere-se à arbitragem. Os torcedores já se acostumaram à checagem dos lances polêmicos pelo árbitro de vídeo. Mas agora a FIFA testa um algoritmo para detectar com mais precisão os lances de impedimento, que são decisivos para o resultado da partida. Nem todos sabem, mas o impedimento só é computado se uma porção do corpo do atacante que possa legalmente tocar na bola esteja adiante do penúltimo defensor adversário. Ou seja, braços, antebraços e mãos não contam para este cálculo. O algoritmo que está sendo testado capta até 20 pontos do perfil do jogador, para comparar com a linha virtual de impedimento projetada pelo defensor adversário, e estabelece com precisão o momento no qual a bolsa saiu do pé do lançador para compor o quadro.
O segundo é o uso extensivo que o time do Liverpool vem fazendo de Inteligência Artificial. O atual campeão europeu e mundial, e líder disparado no campeonato da Liga Inglesa, como toda equipe de ponta, tem um departamento de análise de dados. O que faz a diferença é o trabalho de conceituação e programação, que é muito difícil no futebol, por ser um esporte com número baixo de escore (o que aumenta a aleatoriedade) e muito fluido em comparação a outras modalidades. O time trabalha com o conceito de "domínio de campo", que agrega diversas estatísticas. Com ele é possível definir em quais áreas é mais provável que um jogador do Liverpool chegue antes de um adversário, em condições de fazer uma jogada. Caso os jogadores se movimentem de forma equivocada, o mapa digital de domínio de campo mostra um gráfico reduzido, que indica pouca probabilidade de se fazer um gol dentro de 15 segundos. Ajustar um time de futebol, uma empresa, um grupo de estudo ou de trabalho, ou qualquer outra atividade é hoje uma tarefa facilitada pela Inteligência Artificial. Fica a lição do supercampeão Liverpool.