Há pouco mais de um mês, surgiu entre os amazonenses o primeiro caso de infecção por Coronavírus. Agora, em uma questão de horas, espera-se que o governador, Wilson Lima, declare lockdown (isolamento total) para o Estado. Algumas cidades já adotaram até toque de recolher. A capital, Manaus, que concentra 50% da população de 4 milhões de habitantes do Amazonas, é a único, dentre os 62 municípios do Estado, que possui leitos de UTI. Nessa cidade-Estado, corre-se contra o tempo para reforçar a estrutura já colapsada do SUS (Sistema Único de Saúde).
Somente ontem, 14 de abril, começou a operar o primeiro hospital de campanha. A chegada de intensivistas e outros profissionais da saúde está prevista para os próximos dias, uma união de esforços que soma são profissionais vindos das Forças Armadas e do programa Brasil Conta Comigo. Para o empresário José de Moura Teixeira Lopes Junior, cuja família tem tradição de empreendedorismo há mais de 50 anos no Amazonas, a situação do Estado se deve a uma estrutura deficitária há anos, que foi colapsada por uma demanda emergencial inesperada.
Segundo Mourinha, como é conhecido, uma coisa é se falar de lockdown em Nova York e Tóquio, além dessa possibilidade para São Paulo e Rio de Janeiro, que também reforçam ações para evitar o colapso do sistema público de saúde. Lockdown no Amazonas, porém, é um desafio ímpar no mundo, a começar pela logística do Estado, onde apenas 12 dos 62 municípios são ligados à capital por rodovias. "É necessário um olhar diferenciado para essa dinâmica em que o tempo de transferência das vítimas do COVID-19 do interior do Estado para a capital não se mede em horas, mas em dias de viagem pelos rios, ou seja, uma das logísticas mais complicadas do mundo e certamente a mais desafiadora do Brasil", afirma Moura Jr. Junte-se a isso, os níveis aceleradamente crescentes de desemprego, diante da decadência da Zona Franca de Manaus e a iminente imposição de um rigoroso isolamento social, com suspensão total das atividades industriais, comerciais e serviços. "São postos de trabalho que se fecharão e não serão retomados, diz o empresário.
A capital do Estado enfrenta, a um só tempo, o presente e o futuro, e certamente servirá como laboratório sobre o que funciona ou não para situações emergenciais que se anunciam em outras capitais do país. Isso porque não existe de fato ainda uma perspectiva concreta de solução para esta pandemia. De acordo com um estudo publicado na renomada revista científica Science, até que se tenha uma vacina ou tratamento que se prove eficaz contra o COVID-19, medidas de distanciamento social deverão ser prolongadas, agravando ainda mais tanto o quadro de saúde, quanto a desaceleração da economia. O empresariado brasileiro precisa ter um horizonte da "volta à normalidade", planejar seus negócios, tomar medidas e decisões importantes, mas é necessário fazer isso baseado no maior e melhor número de informações possíveis, aponta Moura Jr.
O governo do Amazonas e a administração de Manaus têm que unificar suas pautas, com suporte do governo federal, para enfrentar o colapso do SUS, salvar as vidas de hoje que farão o futuro amanhã. Esse futuro demanda, no curso do lockdown, ações emergenciais para os pequenos e médios empresários, da mesma forma que se fez um pacote de socorro aos informais e dependentes do sistema de benefícios do país.
Não se pode ignorar a integridade do empresariado brasileiro, dos profissionais de diversos setores, que estão tendo que tomar decisões importantes e dramáticas diante do cenário atual, muitas vezes se endividando para quitar seus compromissos e vivendo essa nova realidade sem saber quando isso terá um fim.
Em um país onde existem aproximadamente 12 milhões de pessoas sofrendo de males como depressão e outros transtornos psicológicos, sob um cenário em que já começamos a ter notícias pelo mundo de indivíduos se suicidando por conta dessa crise instaurada, todo suporte de dados, tanto governo quanto da comunidade médica, que pode aliviar a pressão e trazer algum alento para a população.
Andrea Michael/Glenner Shibata