O presidente Jair Bolsonaro baixou o tom com que vem tratando a crise causada pela pandemia do novo coronavírus em pronunciamento oficial nesta terça-feira (31). Em novo discurso, falou sobre a importância de proteger vidas – que igualou à necessidade de manter empregos -, e listou ações de governo.
Menos de uma semana antes, o presidente havia usado a mesma cadeia nacional para chamar de “gripezinha” e “resfriadinho” o vírus que já matou, em 15 dias, mais de 200 brasileiros. O discurso mudou.
Era difícil prever que Bolsonaro tomaria um caminho mais moderado. O pronunciamento veio após mais uma polêmica, em que o presidente da República usou um trecho da fala do presidente da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, para defender a “retomada” da economia – o que provocou resposta da OMS.
Durante o dia, estimulou ofensas a jornalistas que participavam de uma coletiva de imprensa e foi deixado sozinho pelos repórteres. A essa altura, era público que ministros que dão lastro ao governo, como Sérgio Moro e Paulo Guedes, manifestaram apoio às medidas de isolamento defendidas pelo Ministério da Saúde.
Some-se a isso o pedido de afastamento de Bolsonaro, encaminhado pelo ministro do STF, Marco Aurélio de Melo, à Procuradoria-Geral da República. Diante do cenário, o pronunciamento era uma bomba-relógio.
Ao baixar o tom o presidente parece ter reconhecido, enfim, a gravidade da pandemia. Não questionou a quarentena e, contrariando muitas apostas, não citou o golpe de 1964, que completa 56 anos nesta terça.
Mas voltou a fazer malabarismo verbal com a fala do presidente da OMS, para defender a equivalência de suas preocupações entre a saúde e o setor econômico.
Ghebreyesus falou especificamente sobre a necessidade dos países assistirem os trabalhadores mais afetados pelas medidas de quarentena, aqueles que trabalham de dia para comer à noite. No Brasil, o governo enrola para pagar um voucher de R$ 600 para quem está sem rendimentos – auxílio já aprovado no Congresso Nacional.
Diante dos últimos episódios protagonizados pelo presidente na pandemia, o saldo foi positivo. O objetivo, ao que parece, era mostrar um novo Bolsonaro frente ao coronavírus. Ocorre que, em todo o país, muita gente não viu. Estava nas janelas, batendo panelas.