07/07/2023 às 18h02min - Atualizada em 08/07/2023 às 00h01min

Latinidades debate contribuição de mulheres negras em defesa de biomas

Décima sexta edição do festival é promovida pelo Instituto Afrolatinas, com o apoio da EBC. Este ano, além de Brasília, evento também será realizado no Rio, em São Paulo e Salvador.

Agência Brasil Geral
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-07/festival-discute-contribuicoes-de-mulheres-negras-em-defesa-de-biomas

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A programação do segundo dia do 16º Festival Latinidades, realizado no Museu Nacional da República, em Brasília, começou nesta sexta-feira (7) com o painel Mulheres Negras em Defesa da Vida e da Floresta.



A especialista em política climática Marina Marçal mediou a roda de conversas e, aos presentes, recitou o poema Vozes-Mulheres (leia a íntegra ao final da matéria), da escritora afro-brasileira Conceição Evaristo.




Brasília-DF - 07.07.2023 - A Especialista em Política Climática, Marina Marçal, durante o painel: Mulheres Negras em Defesa da Vida e da Floresta. No Festival Latinidades 2023. Foto: José Cruz/Agência Brasil

Brasília-DF - 07.07.2023 - A Especialista em Política Climática, Marina Marçal, durante o painel: Mulheres Negras em Defesa da Vida e da Floresta. No Festival Latinidades 2023. Foto: José Cruz/Agência Brasil






A especialista em política Climática Marina Marçal recita o poema Vozes-Mulheres - José Cruz/Agência Brasil



Do extrativismo ao poder público



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Primeira a falar, a secretária nacional de Povos e Comunidades Tradicionais e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (MMA), Edel Nazaré, recordou sua trajetória pessoal, desde a terra natal, a zona rural da Ilha de Marajó, no Pará; passando pelo extrativismo, o trabalho doméstico; avançando na luta por direitos como conselheira tutelar; que a levou a concluir um mestrado e ser doutoranda na Universidade de Brasília (UnB).




Brasília-DF - 07.07.2023 - A Secretária Nacional de Povos e Comunidades, Edel Nazaré, durante o painel: Mulheres Negras em Defesa da Vida e da Floresta. No Festival Latinidades 2023. Foto: José Cruz/Agência Brasil

Brasília-DF - 07.07.2023 - A Secretária Nacional de Povos e Comunidades, Edel Nazaré, durante o painel: Mulheres Negras em Defesa da Vida e da Floresta. No Festival Latinidades 2023. Foto: José Cruz/Agência Brasil






Secretária nacional de Povos e Comunidades, Edel Nazaré diz que é preciso impedir o o avanço das pastagens sobre as florestas - José Cruz/Agência Brasil



Edel diz ter deixado a invisibilidade. A ocupante do cargo no MMA se vê diante de novos desafios. “Agora, povos e comunidades tradicionais de todo o país, avançaremos de mãos dadas com servidores públicos federais, no enlace de braços, em uma fileira ou uma ciranda, ainda que imaginária, tal qual a profecia e o impacto de seringueiros e seringueiras, nos anos de 1970 e 1980, para impedir o avanço das pastagens sobre as florestas.”



Defensora da Amazônia



A secretária de Mulheres do Conselho Nacional das Populações Extrativistas, Maria Nice Machado, levou ao Festival Latinidades experiências dela como mulher negra, quilombola, extrativista da Floresta Amazônica e quebradeira de coco-babaçu. Além da fala, a ativista mostrou produtos da bioeconomia da floresta, como sabonetes, ervas e óleos.




Brasília-DF - 07.07.2023 - A Secretaria de Mulheres do Conselho Nacional das Populações Extrativistas, Maria Nice Machado, durante o painel: Mulheres Negras em Defesa da Vida e da Floresta. No Festival Latinidades 2023. Foto: José Cruz/Agência Brasil

Brasília-DF - 07.07.2023 - A Secretaria de Mulheres do Conselho Nacional das Populações Extrativistas, Maria Nice Machado, durante o painel: Mulheres Negras em Defesa da Vida e da Floresta. No Festival Latinidades 2023. Foto: José Cruz/Agência Brasil






A secretária de Mulheres do Conselho Nacional das Populações Extrativistas, Maria Nice Machado, levou ao festival produtos da bioeconomia da floresta, como sabonetes - José Cruz/Agência Brasil



Em entrevista à Agência Brasil, Nice destacou que as mulheres contribuem na defesa da Amazônia e por justiça climática, com conhecimentos tradicionais.




“Eu defendo a Amazônia porque é o coração do mundo, de toda a gente, de todo ser vivo. Todo mundo precisa do ar, água e da floresta para existir. Sem a Amazônia, a gente jamais poderá continuar a viver. Por isso, a gente diz que a morte da Amazônia é o fim das nossas vidas.”




População negra



A última painelista da manhã foi a secretária executiva da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), Selma Dealdina. Ela provocou todos a terem olhar mais amplo para a proteção de outros biomas brasileiros, além do amazônico. Na sua fala, citou a Caatinga, o Cerrado, a Mata Atlântica, o Pampa e o Pantanal. “É impossível que um bioma sobreviva sem o outro. Cuidar só da Amazônia e deixar os demais serem destruídos não vai resolver o problema e será criado um problema ainda maior. No Brasil, não existe só a Amazônia. Precisa também olhar para o todo desse país, que a gente está tentando reorganizar.” 




Brasília-DF - 07.07.2023 - A Secretaria Executiva da Conaq, Selma, Dealdina, durante o painel: Mulheres Negras em Defesa da Vida e da Floresta. No Festival Latinidades 2023. Foto: José Cruz/Agência Brasil

Brasília-DF - 07.07.2023 - A Secretaria Executiva da Conaq, Selma, Dealdina, durante o painel: Mulheres Negras em Defesa da Vida e da Floresta. No Festival Latinidades 2023. Foto: José Cruz/Agência Brasil






Secretária executiva da Conaq, Selma Dealdina critica o "racismo ambiental" - José Cruz/Agência Brasil



Selma Dealdina denunciou a prática de racismo ambiental, que afeta, principalmente, as comunidades de pessoas negras, indígenas e pobres, por exemplo, com a instalação de aterros sanitários em áreas já marginalizadas. Ela ainda criticou a aceitação do poder público à monocultura do eucalipto e suas implicações ambientais negativas.



A representante da Conaq ainda cobrou políticas públicas voltadas, de fato, ao segmento negro da população, com orçamento público compatível com as atividades que precisam ser desempenhadas, na visão dela. Para Selma Dealdina, a prioridade deve ser a titulação dos territórios quilombolas, para haver justiça social.



A liderança quilombola ainda falou sobre expectativas em relação ao poder público para custear políticas antirracistas. “A gente não espera outra resposta do governo que não seja um orçamento voltado à raça, ao gênero, às questões geracionais e da diversidade. Não tem como não olhar para nós, negros e negras, não olhar para periferia, a comunidade LGBTQIA+, as mulheres”, destacou.




“Na política antirracista, não tem como, nos próximos três anos e meio, o atual governo não ver que isso é prioridade. Então, a gente não espera outra coisa do governo que não seja uma divisão justa [do orçamento]”, cobrou.




No fim dos diálogos, a organização da sociedade civil internacional com representação no país Oxfam Brasil anunciou a campanha sobre as mulheres da floresta que será lançada em 25 julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, com depoimentos de diversas extrativistas brasileiras.



As mulheres repetiram juntas, em pé, de mãos dadas, sucessivas vezes, o tema da iniciativa: “Onde tem floresta em pé, tem mulher”.



Festival Latinidades



O 16º Festival Latinidades é promovido pelo Instituto Afrolatinas e tem o apoio da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). No Distrito Federal, o evento seguirá até domingo (8), em dois pontos, no Museu Nacional da República e na cidade do Paranoá.



Neste ano, pela primeira vez, o Festival Latinidades sairá da capital federal e será realizado nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador, a partir de 15 de julho até o dia 30. A iniciativa marca o Julho das Pretas, mês escolhido para fortalecer ações políticas coletivas e autônomas de mulheres negras, em diversas esferas da sociedade.



As inscrições para participar do evento são gratuitas e a programação completa, nas quatro capitais, está no site do festival.



Vozes-Mulheres (De Conceição Evaristo) 



“A voz de minha bisavó 



ecoou criança 



nos porões do navio. 



ecoou lamentos 



de uma infância perdida. 



 A voz de minha avó 



ecoou obediência 



aos brancos-donos de tudo. 



 A voz de minha mãe 



ecoou baixinho revolta 



no fundo das cozinhas alheias 



debaixo das trouxas 



roupagens sujas dos brancos 



pelo caminho empoeirado 



rumo à favela. 



 A minha voz ainda 



ecoa versos perplexos 



com rimas de sangue 



e fome. 



 A voz de minha filha 



recolhe todas as nossas vozes 



recolhe em si 



as vozes mudas caladas 



engasgadas nas gargantas. 



A voz de minha filha 



recolhe em si 



a fala e o ato. 



O ontem – o hoje – o agora. 



Na voz de minha filha 



se fará ouvir a ressonância 



o eco da vida-liberdade”. 




Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-07/festival-discute-contribuicoes-de-mulheres-negras-em-defesa-de-biomas

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