22/06/2023 às 20h50min - Atualizada em 23/06/2023 às 00h01min

Cotas na UnB completam 20 anos com ingresso de mais de 38 mil alunos

Em 2020, a universidade estendeu a política de ações afirmativas raciais para a pós-graduação, destinando 20% das vagas de cada edital para candidatos negros

Agência Brasil Geral
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A Universidade de Brasília (Unb) realizou nesta quinta-feira (22) uma cerimônia para celebrar os 20 anos da implantação da política de cotas raciais na instituição, completados no último dia 6 deste mês. A universidade foi a primeira instituição federal de ensino superior do país a adotar a iniciativa.  



Desde 2004, primeiro ano de implantação da política, 38.042 estudantes entraram na universidade pelo sistema. No início, a política previa que 20% das vagas de graduação seriam destinadas a candidatos negros. Após a Lei de Cotas, de 2012, a instituição destina 50% para estudantes de escolas públicas, com base nos critérios de renda e raça e mantém  5% das vagas exclusivas para negros.



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Na reunião extraordinária do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), órgão que aprovou e estruturou a política na UnB, o pedagogo e representante dos cotistas da universidade, Jonhatan Gonçalves, relatou como a política de cotas lhe permitiu acessar a educação.




“Minha família sequer tinha condições físicas, psíquicas, emocionais e culturais para tamanho apoio, suporte ou investimento à minha educação”.  




Avanços 



O vice-reitor da UnB, Henrique Huelva, destaca que adoção das cotas foi o primeiro passo para saldar uma dívida do país com a população negra, vítima de um processo de escravidão, uma das maiores atrocidades cometidas pela humanidade. Segundo ele, o caminho ainda é longo. 



Conforme pesquisas internas da universidade, quase 12% dos alunos se declaram pretos e 34% pardos. Entre os docentes, o percentual dos que se declaram pretos cai para 4%, e 20% pardos.  




“Isso mostra a necessidade de termos cotas, ações afirmativas em mestrado e doutorado, os dois passos seguintes, para que se permita a entrada de novos docentes e pesquisadores e tenhamos uma aproximação um pouco mais satisfatória entre a composição étnico-racial da sociedade brasileira e composição interna da universidade”  




Em 2020, a universidade estendeu a política de cotas para a pós-graduação, destinando 20% das vagas de cada edital para candidatos negros e ao menos uma vaga adicional em todas as seleções de stricto sensu para indígenas e quilombolas, As regras entraram em vigor no primeiro semestre de 2021. Está em discussão pelo Cepe a reserva de vagas para docentes.  



A reitora da UnB, Márcia Abrahão, contou as pressões e desafios enfrentados pela UnB, ao ser a pioneira na implantação das cotas raciais para ingresso na graduação. Um dos episódios mais marcantes foi a contestação da iniciativa no Supremo Tribunal Federal (STF).  




Brasília (DF), 22/06/2023 – A Reitora da UNB, Márcia Abrahão, fala a imprensa na  UnB do evento para comemorar os 20 anos do sistema de cotas da instituição.Foto Valter Campanato/Agência Brasil.

Brasília (DF), 22/06/2023 – A Reitora da UNB, Márcia Abrahão, fala a imprensa na  UnB do evento para comemorar os 20 anos do sistema de cotas da instituição.Foto Valter Campanato/Agência Brasil.






Reitora da UNB, Márcia Abrahão, fala das pressões e desafios enfrentados pela UnB, ao ser a pioneira na implantação das cotas raciais- Valter Campanato/Agência Brasil



Na ocasião, a universidade teve de realizar um estudo sobre o nível de conhecimento dos estudantes cotistas para contestar ação judicial. Em abril de 2012, a Corte Suprema reconheceu que a política era constitucional. No mesmo ano, o governo federal instituiu a Lei de Cotas. 



Em outro momento, a universidade teve de lidar com as inúmeras fraudes decorrentes da autodeclaração dos candidatos.  



“A universidade foi ousada e vai experimentando. Foi um momento em que a universidade confiou que autodeclaração, de acordo com a lei [de Cotas], seria suficiente para que as pessoas entendessem que é uma política específica. Infelizmente, tivemos muitos casos de fraudes, estabelecemos comissões de investigação. Retornamos com as comissões de heteroidentificação”, afirmou. 



A UnB recriou a comissão de heteroidentificação em 2022, quando uma banca avalia a autodeclaração de candidatos negros, indígenas e quilombolas para ingresso nos cursos de graduação. Dois anos antes,  em decisão inédita, a instituição expulsou 15 estudantes após intensa investigação comprovar fraude na autodeclaração. 



Permanência na universidade  



Para a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, as cotas precisam ter como suporte políticas de incentivo à permanência dos cotistas na universidade.  




“Quem é estudante sabe o quanto o dinheiro para as refeições, lanches e xerox são fundamentais para a gente se manter e viver estudando, sem precisar abandonar o estudo e correr atrás de outros modos de sobrevivência. É um auxílio fundamental para estudantes quilombolas, indígenas em situação de vulnerabilidade socio-econômica”. 





Brasília (DF), 22/06/2023 – A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, participa na  UnB do evento para comemorar os 20 anos do sistema de cotas da instituição. UNB, Foto Valter Campanato/Agência Brasil.

Brasília (DF), 22/06/2023 – A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, participa na  UnB do evento para comemorar os 20 anos do sistema de cotas da instituição. UNB, Foto Valter Campanato/Agência Brasil.






Anielle Franco participa de evento para comemorar os 20 anos do sistema de cotas da UNB - Valter Campanato/Agência Brasil



Em fevereiro, o governo federal anunciou reajuste da Bolsa Permanência, com percentuais de 55% a 75%, o que não ocorria desde 2013. Atualmente, os valores vão de R$ 400 a R$ 900. 




Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-06/cotas-na-unb-completam-20-anos-com-ingresso-de-mais-de-38-mil-alunos

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