Quando se trata do grupo em situação de pobreza, isto é, que tem renda familiar mensal inferior a R$ 140, a proporção é de 1% de queda para a preservação de 29 mil hectares. Ainda segundo a entidade, garantir carteira assinada a trabalhadores consiste em uma ação de impacto ambiental. Ao se aumentar 1% o índice de emprego formal, há possibilidade de se reduzir o desmatamento em 8,2% (87,6 mil hectares).
Ao demonstrar os resultados, a pesquisa se propõe a contestar a suposição de que pessoas de baixa renda seriam um dos principais agentes de desmatamento, em troca de seu sustento. Para o instituto, tal afirmação desconsidera "que são muitos e diversos os indivíduos e grupos que promovem a derrubada da vegetação nativa, seja de forma legal ou ilegal".
"Mas esse nevoeiro que se forma em torno do tema não deve impedir a análise sobre a relação entre pobreza e desmatamento no Brasil, que oferece dados preciosos sobre o conjunto das ações necessárias para o combate ao desmatamento. Investigar se as privações econômicas poderiam impactar o desmatamento não é o mesmo que colocar a culpa nos pobres. Muitos estudos já foram realizados nesse sentido. Parte deles identificou que não existe relação unívoca entre pobreza e desmatamento. Em alguns casos, a falta de recursos financeiros leva à proteção das florestas, uma vez que essas populações se organizam com base em economias não conectadas aos mercados consumidores", aponta o estudo.
Outro ponto em destaque é a constatação de que há diferença entre se implementar políticas articuladas. Segundo a equipe de pesquisadores, "ao considerar os efeitos da redução da pobreza e do aumento da oferta de empregos nos municípios vizinhos, a análise espacial mostra que tais políticas públicas sociais devem ser promovidas regionalmente para aumentar o potencial de redução do desmatamento". "Políticas isoladas tendem a ser pouco eficazes, devido à abrangência e conexão dos fatores associados ao desmatamento entre os municípios como, por exemplo, migração da mão de obra."
Os pesquisadores adotaram o modelo econométrico para desenvolver o estudo. Foram cruzados dados do período de 2012 a 2019, de diversas fontes, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ministério da Cidadania, Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil (MapBiomas) e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).