Oferecer cuidado e proteção é a missão e o desejo dos pais. Mas quando a situação é urgente e a saúde do bebê está em jogo, isso pode começar ainda na barriga da mãe com uma cirurgia intrauterina. A técnica permite tratar problemas congênitos ainda no útero materno, como a cirurgia realizada recentemente, no Complexo Hospitalar de Niterói (CHN), em uma paciente de 37 anos, com 26 semanas de gestação. A intervenção neurológica - chamado de mielomeningocele - foi minimante invasiva e feita por meio de técnica de videolaparoscopia para corrigir uma má-formação rara na coluna (região lombossacral) do bebê. Esta foi a primeira cirurgia intrauterina realizada na Região Norte-Leste Fluminense.
Segundo Daniela Gomes Machado Selano, coordenadora do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do CHN, o bebê apresentava um defeito decorrente do não fechamento da região mais baixa do tubo neural, o que leva à exposição do nervo, causando danos progressivos ao sistema locomotor e problemas na bexiga, com o comprometimento do intestino.
"A cirurgia fetal é comprovadamente uma técnica bem-sucedida descrita na literatura médica e seus benefícios à saúde do bebê são superiores quando comparados com o procedimento feito depois do nascimento. Com a videocirurgia, o processo se torna ainda mais seguro, pois é minimamente invasiva, o que diminui o risco de abortamento e o tempo de recuperação da gestante e diminui as chances de complicações. Após a operação, a paciente seguirá o pré-natal normalmente e levará a gestação até as 40 semanas, se possível", explica a Dra. Daniela.
Durante a videocirurgia, a equipe médica especializada acessou o abdome e o útero materno, por meio de pequenas incisões. Com a ajuda de um equipamento de ultrassom, o bebê foi localizado, afastado da placenta, e o líquido amniótico foi retirado e preservado em um repositório estéril e climatizado. Nesse momento, iniciou-se a intervenção neurológica, com o implante de uma tela na coluna do bebê - na região lombossacral -, que protegerá o tubo neural durante o desenvolvimento da gestação.
De acordo com Daniela Gomes, essa cirurgia é indicada quando o bebê tem movimento nos membros inferiores e não há alteração cromossômica. O objetivo da operação foi atenuar as sequelas da má-formação e garantir o bom desenvolvimento do bebê.
"Essa cirurgia é considerada de altíssima complexidade e foi inédita na Região Norte-Leste Fluminense. O procedimento contou com uma equipe especializada e toda a tecnologia e infraestrutura de que o CHN dispõe para casos desse tipo", conta a coordenadora do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do hospital.
A intervenção foi considerada um sucesso e foi liderada pelo especialista em medicina fetal Dr. Renato Sá e pelos neurocirurgiões Dra. Maria Anna Brandão e Dr. João Ricardo Penteado. A paciente passa bem, já recebeu alta hospitalar e está seguindo o pré-natal normalmente.