Em 2012, quando Michel Teló emplacou “Ai Se Eu Te Pego” no topo das músicas mais ouvidas em 23 países, o Brasil atingiu um marco sem precedentes: o estilo sertanejo, gênero mais popular no país, finalmente, ultrapassou os limites do território nacional.
“O ritmo dançante e a simplicidade das letras ajudaram a música no cenário internacional. Eu vi americano, russo e, praticamente, a Europa inteira, cantando em português! Não tem nada mais gratificante para um músico brasileiro do que isso”, lembra Michel Teló em entrevista ao apresentador Fábio Porchat. Nos Estados Unidos, ele foi indicado a sete categorias do Grammy Latino e levou o prêmio de “Música do Ano”. “Ai Se Eu Te Pego” foi número 1 da Hot 100 da Billboard, colocando Teló entre os quatro brasileiros a aparecer na lista norte-americana, ao lado de Astrud Gilberto, Sérgio Mendes e Morris Albert.
Desde então, o sertanejo não emplacou outro hit à altura de "Ai Se Eu Te Pego", mas seguiu marcando pontos internacionais. No ano passado, Marília Mendonça atraiu a maior audiência já alcançada por uma live no YouTube, somando mais de 3 milhões de visualizações ao vivo. Em 2020, foi a vez da playlist "Esquenta Sertanejo", do Spotify, alcançar o posto de mais ouvida do mundo, com mais de 5 milhões de seguidores em todo o planeta.
O sucesso do gênero nas plataformas de streaming tem encorajado artistas como o mineiro Gusttavo Lima a investir em turnês internacionais. Em 2019, nos Estados Unidos, o cantor atraiu um total de 100 mil pessoas em apresentações feitas em Atlanta, Miami, Newark e Boston. “O sucesso foi tanto que fui proclamado cidadão de Newark, em New Jersey. Foi o show de maior público de um cantor brasileiro no estado”, conta Gusttavo Lima, que precisou adiar o plano de gravar um DVD no Madison Square Garden, em Nova York, por conta da pandemia.
A fim de colaborar para a expansão da música sertaneja no exterior, o multi-instrumentista paulista Gabriel Vieira mudou-se para a Califórnia, em 2019, em busca de proximidade com os ouvintes norte-americanos. “Gosto de apresentar as raízes sertanejas para estrangeiros e ajudar outros apaixonados por música a conhecer esse estilo tão próprio do Brasil”, diz Gabriel, que já tocou com estrelas como Roberta Miranda e a dupla Maria Cecília & Rodolfo. Enquanto aguarda o retorno aos palcos, Gabriel dá aulas de viola caipira, o instrumento mais tradicional do gênero. “O som da viola caipira de 10 cordas só existe na música sertaneja e eu me orgulho muito de poder compartilhar esse conhecimento em outro país”, afirma Gabriel, experiente no instrumento.
Enquanto outro hit sertanejo não invade o mercado internacional, o potencial do gênero pode ser medido pela popularidade de seus fãs. De astros da música latina como Julio Iglesias, que regravou Zezé di Camargo e Luciano, e a mexicana Ana Gabriel, que fez uma versão de "Evidências", de Chitãozinho e Xororó, até a rapper de Nova York, Cardi B. Em 2020, a americana apareceu em sua rede social cantando o sucesso “Tudo de Novo”, dos irmãos Zezé di Camargo e Luciano. “Não imaginava que ela gostasse de sertanejo. Isso só prova que a música não tem fronteira”, afirma Zezé, veterano do estilo e inspiração para a nova geração que sonha com o sucesso internacional. “Nosso sertanejo é tão único quanto a bossa nova, o samba e o funk, uma música dançante e de qualidade tipo exportação”, afirma Gabriel Vieira.