Até 21 de novembro, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) está com a Consulta Pública (CP) nº 81 aberta. O objetivo é receber contribuições de toda a sociedade para a atualização do Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde no ciclo 2019/2020 cobertos pelos planos de saúde privados em todo o Brasil. Entre esses novos procedimentos, está a incorporação do implante transcateter de válvula aórtica (TAVI) como uma nova tecnologia em saúde, de acordo com a proposta da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista.
O TAVI é um procedimento não invasivo utilizado no tratamento da estenose aórtica, empregado com sucesso desde 2007 e que já em 2008 chegou ao Brasil. É indicado especialmente para pacientes idosos e casos graves em que a chamada “cirurgia de peito aberto” é pouco viável ou muito arriscada. Entre as suas principais vantagens estão o menor tempo de internação (geralmente três dias), recuperação mais rápida e a possibilidade de realização com anestesia local ao invés da geral.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) projetam que, em 2050, as pessoas com 75 anos de idade ou mais representarão pouco mais de 10% da população nacional[1]. Desses 22,6 milhões de brasileiros, aproximadamente 3% deles vão apresentar estenose aórtica grave por causa degenerativa[2]. Isso representa um grave problema de saúde pública que deve ser pensando desde já.
Nesse sentido, a inclusão do TAVI no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde da ANS é tão importante porque poderá salvar vidas de uma parcela considerável dos pacientes idosos com estenose aórtica no Brasil.
Para quem acredita que 2050 é um futuro ainda muito distante, mesmo em se falando de saúde coletiva, vale destacar que, entre 2008 e 2018, foram mais de 118 mil hospitalizações relacionadas ao tratamento da doença valvar no Brasil, conforme apontam dados do Datasus[3]. Segundo estimativas, pacientes com quadro de estenose aórtica com insuficiência cardíaca e distúrbios do ritmo têm expectativa de vida de menos de dois anos[4], se não tratados.
Os avanços da medicina apontam que a população brasileira vai chegar à terceira idade cada vez mais ativa física e mentalmente. Por isso, é fundamental garantir que essas pessoas tenham acesso a procedimentos que alonguem suas vidas com qualidade e que as possibilitem continuar produtivas.
Considerando os benefícios do TAVI, a segurança e a eficácia desse procedimento, que tem sido realizado com alta taxa de sucesso há mais de uma década dentro e fora do Brasil, a comunidade médica cardiológica convida todos os cidadãos para que façam suas contribuições nessa consulta pública, aberta no site da ANS.
Pelo bem da terceira idade de agora e do futuro, é importante mostrar o clamor pela inclusão do TAVI no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde cobertos pelos planos de saúde privado. Esse, inclusive, pode ser um primeiro passo para que, num futuro não tão distante, esse procedimento passe a ser acessível a todos os brasileiros por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
Como funciona o TAVI
Após anestesia local, a prótese, embarcada na extremidade do cateter, é inserida por meio de uma pequena incisão feita na região da virilha do paciente. Ela segue por uma artéria e alcança o coração. Então, um balão acoplado no cateter é inflado para que a válvula que apresentava problemas possa ser substituída por uma nova. Feito o implante, o sistema de transmissão já pode ser removido. O TAVI pode levar apenas 45 minutos ou mais, dependendo da gravidade do quadro.
Já na “cirurgia de peito aberto” é o procedimento feito por meio de uma incisão no tórax. Dessa forma, o cirurgião acessa o coração e troca a válvula danificada pela prótese. A duração, nesse caso, geralmente é mais longa em comparação ao TAVI por ser a cirurgia mais invasiva.
Somente esses dois procedimentos médicos podem sanar a doença, não havendo possibilidade de tratamento por vias medicamentosas.
Estenose aórtica
A estenose aórtica é uma doença das válvulas cardíacas geralmente desenvolvida devido à degeneração por conta da idade avançada. Ela se caracteriza pelo espessamento dos folhetos ou calcificação, dificultando a abertura valvar. Esse estreitamento, clinicamente chamado de estenose, faz com que o sangue reflua da aorta para o ventrículo esquerdo levando a uma insuficiência da válvula.
Seus principais sintomas – cansaço, dores no peito, falta de ar, tonturas, desmaios e dificuldade em praticar exercícios ou até mesmo atividades simples do dia a dia – muitas vezes são negligenciados por serem facilmente confundidos com os desconfortos comuns do envelhecimento. Isso torna a estenose aórtica ainda mais perigosa, já que muitos pacientes acabam morrendo sem mesmo serem diagnosticados e tratados.
*Por Dr. Flávio Tarasoutchi, diretor da Unidade Clínica de Cardiopatias do Instituto do Coração - InCor HC FMUSP e Professor Colaborador de Cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Referências
[1] Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Projeção da população do Brasil por sexo e idade 1980-2050, Revisão 2008. https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv41229.pdf. Acesso em outubro 2020.
[2] Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2010001400019. Acesso em novembro de 2020.
[3] Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0066-782X2020000200313&script=sci_arttext&tlng=pt#:~:text=Estima%2Dse%20que%20pacientes%20acometidos,valva%20a%C3%B3rtica%20por%20uma%20pr%C3%B3tese. Acesso em novembro de 2020.
[4] Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0066-782X2020000200313&script=sci_arttext&tlng=pt#:~:text=Estima%2Dse%20que%20pacientes%20acometidos,valva%20a%C3%B3rtica%20por%20uma%20pr%C3%B3tese. Acesso em novembro de 2020.