A diminuição da frequência de voos nacionais devido à pandemia fez com que viajantes a lazer e a trabalho adotassem ainda mais o aluguel de carros.
Paralelamente, aplicativos como Uber e 99 também estão recebendo mais solicitações de motoristas interessados em ingressar nesse tipo de atividade, à medida em que a pandemia agravou o desemprego. Muitos motoristas de aplicativos locam carros mensais com as locadoras para prestar o serviço.
Com isso, e devido à venda de parte da frota das locadoras que temiam a diminuição da demanda, além da redução da oferta de novos veículos nos pátios das montadoras, a dificuldade de alugar carros preocupa clientes e empresas que dependem deste serviço.
"Com a retomada de forma acelerada, muitas locadoras não estão encontrando veículos novos para comprar", reforça o presidente da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA), Paulo Miguel Jr. A maioria dos aluguéis, no entanto, é para diárias. Nos feriadões de 7 de setembro e 12 de outubro, por exemplo, o pátio das empresas de locação de carros esvaziaram.
De acordo com Cibeli Oliveira, diretora comercial e de marketing da empresa de viagens corporativas TripService, a orientação para os clientes é que as reservas sejam feitas ainda com mais antecedência, para garantir disponibilidade dos veículos, principalmente em cidades pequenas ou quando estes necessitam de carros diferenciados, como automáticos, 4x4 e outros.
À medida que os aeroportos do país experimentam mais tráfego, a demanda de serviços de aluguel de automóveis também deve aumentar. Carlos Sarquis, head de RAC (Rent a Car) da Unidas, destaca que o mercado retomou aos níveis anteriores em velocidade maior do que a empresa imaginava quando o isolamento social começou, e vem crescendo mês a mês desde o início do segundo semestre. "Com a aproximação do final do ano, onde haverá ao menos mais um feriado prolongado nacional, além de Black Friday, Natal e Ano Novo, nossa expectativa é que esse ritmo se acelere ainda mais", destaca.
Crescimento em 2021
Como o mercado de locação de veículos no Brasil ainda tem espaço para se desenvolver, conforme Paulo Miguel Jr, a expectativa para 2021 é de crescimento do setor. "Tem muito espaço ainda para as pessoas conhecerem a cultura de locação de veículos", diz. O salto do segmento girou, em média, nos últimos anos, entre 15% e 20% e a tendência é de que estes índices voltem a se repetir já a partir do ano que vem.
Recentemente o mercado foi pego de surpresa com a notícia da fusão entre Unidas e Localiza, o que pode criar uma gigante no segmento de locação, incluindo não apenas o aluguel de veículos, mas os serviços de carros por assinatura e gestão de frotas. Como ambas são empresas de capital aberto, a operação ocorrerá por meio da incorporação de ações. Contudo, ainda está condicionada à aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Para Paulo Miranda Junior, esta fusão tende a ser mais uma consolidação de mercado, ao mesmo tempo em que ajudará a divulgação de pequenas e médias locadoras. "O turismo de curta distância com locadoras regionais é um grande mercado para os próximos anos", acredita.
Em março, a locação de veículos para turismo chegou a cair cerca de 90%, associado à devolução de veículos por empresas de terceirização de frotas e carros para prestação de serviços. Hoje, conforme Paulo, o mercado de terceirização para prestação de serviços já retornou aos índices anteriores e, em alguns casos, superou aos índices registrados antes da pandemia.
Demanda em dezembro
Historicamente, o mês de dezembro já registra movimentação mais intensa no Brasil, até por conta do início do verão. Neste ano, a tendência é ser ainda maior. Segundo Carlos Sarquis, as pessoas têm adotado o carro como meio de locomoção para percorrer grandes distâncias, principalmente pelo fato de elas considerarem um ambiente mais seguro.
"Em meados de junho, por exemplo, estávamos com mais de 80% da ocupação pré-pandemia", observa. Essa mudança de comportamento acelerou tendências que a locadora já tinha mapeado no início de 2020, como a maior adesão ao modelo de carro por assinatura, por exemplo, por conta da flexibilidade de uso e estar sempre à disposição. Para Carlos, a retomada da economia representa a volta ao nível que o país estava antes de março. "Temos monitorado a evolução da demanda e acreditamos que ela se ajuste de forma orgânica no decorrer dos meses, uma vez que as oscilações costumam se pautar por efeitos sazonais", acrescenta Sarquis.
Os resultados do segundo trimestre da Localiza, reportados no final de julho, também apresentam recuperação mensal, principalmente em junho. A empresa percebe um aumento progressivo da frota alugada mês a mês, fechando o segundo trimestre nos patamares de 2019 na categoria Aluguel de Carros e superiores ao ano de 2019 na Gestão de Frota. Em junho de 2020, a divisão de Aluguel de Carros da companhia estava com taxa de utilização em 60,7%, 7,7% maior que em abril, já mostrando recuperação dentro do trimestre. A tarifa média também vem se restabelecendo, contribuindo para a saúde financeira do negócio. A divisão de Gestão de Frotas se firma como a mais resiliente nesse cenário. A receita aumentou 14,8% em relação ao segundo trimestre de 2019. A frota média alugada continua em crescimento, 14,4% maior quando comparada ao mesmo período do ano anterior.
Cibeli Oliveira, da TripService, explica que o cenário atual do mercado de locação de veículos exige planejamento e reservas antecipadas por pessoas e empresas. "É preciso considerar não somente a sazonalidade, mas a alta demanda em que o setor se encontra", conclui.