A pandemia do novo Coronavírus vem impactando não só a saúde física das pessoas, mas de grande modo a saúde mental e o bem-estar social, de acordo com a psicóloga e palestrante Mireille Augusta Martins de Morais. As grandes mudanças, sejam nas rotinas, nas relações familiares, na vivência do luto de um ente querido, amigo, ou até mesmo do impacto socioeconômico, como a perda de um emprego, de um empreendimento ou de sonhos e projeções futuras, segundo Mireille estão trazendo um experimentar de sentimentos que muitos desconheciam existir.
“Ser infectado por uma doença até então desconhecida, principalmente em relação ao seu tratamento, e com prognóstico dos mais desfavoráveis possíveis, de levar a pessoa a óbito em poucos dias, pode fazer aflorar mais ainda os sintomas obsessivos-compulsivos da mente humana, quando se intensifica o processo de higiene e limpeza como meio de prevenção”, explica a psicóloga, que há 16 anos atende pacientes com transtornos e/ou dificuldades emocionais vinculadas a traumas ou situações estressantes.
Para Mireille, a pandemia tem feito muitas pessoas experimentarem sentimentos de ansiedade, depressão, fobias, pânico, insônia, confusão, medo, culpa e isolamento. “Estes sentimentos estão associados a grandes especulações, falta de informação ou informações distorcidas, gerando em muitos casos, tensão e sentimentos negativos, advindos das incertezas, dos fatores desconhecidos, do descontrole e, principalmente, do medo da morte.”
Com esta situação, segundo a psicóloga, o indivíduo viu-se diante de uma mudança súbita da rotina habitual, quase uma privação do ir e vir. Ficar restrito nas atividades, isolados dos contatos sociais e principalmente físicos, trouxe uma sensação de frustração muito grande, associada ao tédio, causando angústia e sofrimento psicológico. A psicóloga destaca que, muitas vezes, lidar com o próprio eu não é tarefa fácil para alguns.
Para finalizar, Mireille observa que, apesar de todo caos e pânico de sentimentos aglutinados e embaraçados, em muitos casos, pessoas se permitiram descobrir-se, aceitar-se e perceber-se com uma dinâmica emocional e de defesa positivas e adequadas. “Isso mostra resiliência e força, possibilitando a adaptação não como imposição, mas como forma de se repensar, reparar e refazer-se de transtornos vivenciados”, conclui.