A pandemia provocada pela covid-19 vem causando danos econômicos e sociais sem precedentes, tornando-se, assim, uma condição particular de estresse, que impacta a todos e aumenta o risco de desenvolvimento dos chamados transtornos mentais. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada 40 segundos, uma pessoa morre por suicídio no mundo. No Brasil, esse número passa de 12 mil mortes por ano. Desse total, cerca de 96,8% dos casos estão relacionados a transtornos mentais, como depressão e transtorno bipolar.
O professor da universidade Estácio de Sá, em São José, Nelson Jr. Cardoso, explica que, dentro da discussão sobre os impactos da pandemia na saúde mental, é necessário destacar um ponto: o aumento no índice de suicídios.
“É percebido que com a evolução e disseminação da doença, os efeitos a longo prazo são vivenciados pelas pessoas em vários segmentos de suas vidas, podendo causar uma implicação maior em grupos mais vulneráveis. Assim, indiretamente há uma influência sobre os índices de comportamento suicida”.
Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM), organizam nacionalmente o Setembro Amarelo. O dia 10 deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas a campanha dura o ano todo.
Em Santa Catarina, órgãos como o Ministério Público, e Tribunal de Justiça, aderiram a campanha nas suas páginas oficiais. Em Brasília, o Congresso Nacional ficará novamente iluminado de amarelo, de 12 a 24 de setembro, também em adesão ao mês mundial de prevenção do suicídio.
Mestre em Saúde Mental e Atenção Psicossocial, Nelson Jr. Cardoso concorda com a necessidade de se falar sobre o assunto.
“É importante buscar entender o que é e, principalmente, desconstruir os preconceitos e conhecimentos distorcidos sobre quem sofre com depressão”, salienta.
Estigmas com pessoas e familiares diagnosticados com covid-19, além das mudanças na rotina e no ensino, podem gerar sofrimento e se tornar gatilhos para a ideação suicida. Por isso, o professor ressalta que é importante manter contato, mesmo que virtual, com a rede de apoio: familiares, amigos e vizinhos.
É importante ressaltar que o suicídio não é uma doença – mas um fenômeno multifatorial e complexo. Ou seja: a pessoa que tem ideações suicidas está em um processo de sofrimento, que pode estar relacionado a vários fatores, como perda do emprego, separação conjugal, morte de um familiar e problemas financeiros.
Sinais comuns podem anteceder um comportamento suicida e servem de alerta: o isolamento afetivo e o sentimento de solidão; desamparo e desesperança; autodesvalorização; crise existencial; exposição frequente a situações de risco e relatos de ideações e planejamento para cometer o suicídio. Pessoas próximas devem estar atentas aos sinais.
“É importante que os familiares busquem entender que esses sintomas não significam fraqueza ou preguiça por parte da pessoa. Em vez disso, familiares e amigos devem compreender que o indivíduo está sofrendo e que tais sinais podem indicar o início de um adoecimento. Isso exige escuta, acolhimento sem julgamentos e ajuda para que a pessoa aceite apoio/tratamento”.