A questão do isolamento social no Brasil, aplicado devido à pandemia do coronavírus, desde março último, fez com que diversas ações sociais ganhassem protagonismo rotineiro na vida dos brasileiros. Para se ter uma real noção disso, pega-se como base os números divulgados pela Associação Brasileira de Captadores de Recursos, a ABCR, que apontou levantamento, em maio passado, com ênfase para o volume de doações feitas no país até então, sendo um total de R$ 5,1 bilhões, relevantes a 320 mil doadores que fizeram suas contribuições para empresas e campanhas nacionais.
Os números citados acima podem ser creditados a diferentes pilares que propiciam a difusão do assistencialismo. É o caso, por exemplo, do Instituto Vozes das Periferias, de São Paulo, capital, localizado na região da Vila Prudente. Criado em 2013, o Vozes atua, incessantemente, no atendimento do público de sua região desde o boom do coronavírus. A população, por meio do projeto, recebeu itens de alimentação, com cestas básicas e tickets de alimentação (durante três meses), e materiais de higiene pessoal e limpeza.
O trabalho do projeto na pandemia também apresenta multidisciplinaridade que foge do viés considerado básico (alimentação e higiene). “Realizamos todos os dias a conscientização das famílias atendidas por nós sobre os riscos do coronavírus e as medidas protocolares necessárias para o reforço da saúde de cada um. É um formato, também, para que possamos evitar a proliferação do vírus entre os moradores nas favelas”, enfatiza Cesar Gouveia, empreendedor social e chefe executivo do Vozes das Periferias.
A educação é outro fator presente no mapa de atenção da ONG. Para isso, está sendo desenvolvido um aplicativo, em parceria com a Fábrica de Aplicativos, para levar atividades, de maneira on line, para as crianças que não estão frequentando as escolas.
Todo formato de amparo para a sociedade destinado pelo Vozes das Periferias conta com a parceria da Gerando Falcões, por meio do programa de Padrinhos e Madrinhas da Favela. Além disso, colaboradores fixos (17) integram a equipe do projeto, como forma de total apoio e atenção às necessidades da região e lugares próximos.
Segundo Gouveia, a pandemia só abriu um elo para que se promovesse o olhar mais atento ao trabalho social que já vinha sendo realizado por instituições, porém, sem o real apoio para o fomento do crescimento. Ainda de acordo com o empreendedor social, o atual caos na saúde fez com que uma mudança de rota fosse, momentaneamente, colocada no caminho dos objetivos traçados para 2020.
“Antes da pandemia, nossa atuação focava em oferecer oportunidades de acesso para essas famílias de baixa renda à cultura, ao esporte, à qualificação profissional e por consequência às grandes oportunidades de geração de renda. Isso, de fato, não mudará. Continuamos com foco na ampliação dos braços de atendimento nestes quesitos. Contudo, com as devidas precauções necessárias para a saúde de todos”, explica. “O projeto sempre teve como foco a transformação da vida das pessoas e famílias que moram nas favelas da Vila Prudente. Para isso, começamos com os projetos de comunicação e formação. Após isso, passamos a impactar essas famílias oferecendo atividade de esporte para seus filhos e filhas e, recentemente, ampliamos essa atuação para a oferta também de atividades de cultura”, completa.
Outro ponto importante no crescimento de doações foi o posicionamento de empresas de diferentes segmentos, que fortemente elaboraram ações para que o engajamento social, no Brasil, obtenha êxito. Sobre esse aspecto, Gouveia salienta que as grandes companhias passaram a olhar o impacto social com importância durante este enfrentamento da Covid-19.
“Empresas como Ambev, PepsiCo e XP, entre outras, ofereceram uma enorme ajuda financeira e com outras frentes para o combate à fome e a Covid-19. Em suma, estou vendo o atual momento como positivo para o 3º setor, pois organizadamente e sem o apoio do governo estamos conseguindo fazer chegar ajuda a quem precisa com o apoio de empresários e empresas engajadas socialmente”.
Empreendedores sociais – A história do idealizador do Vozes das Periferias, assim como a de outros que encabeçam o surgimento e a idealização de projetos similares por todo o país, também ganhou notoriedade neste período de pandemia. Assim, fez despertar em pessoas já engajadas em ajudar comunidades a vontade de se tornar um Empreendedor Social.
“Tenho visto muitas pessoas com o desejo de criar uma ONG. Isso me gera um pouco de receio, pois nosso setor não é um mundo de arco-íris, pelo contrário, é muito suor, muita luta. Mas vejo isso, em algumas pessoas, com bons olhos. O Brasil sempre foi um país solidário e, talvez, agora esteja entendendo que a solidariedade aliada com gestão, tecnologia e engajamento das partes pode ser também um campo para empreender”, comenta.
O Empreendedor Social deve seguir à risca metodologias aplicadas ao empreendedorismo, de maneira geral, para obter resultados positivos na sua comunidade. Gestão de rotina e aprendizados constates são pontos presentes no manual de êxito. “Também é relevante um olhar atento à capacitação dos líderes sociais para que comecem a entender e empreender socialmente com foco em gestão, tecnologia, implantação de novas rotinas”, salienta.
No caso do Vozes das Periferias os resultados da gestão podem ser medidos, também, pela inclusão no mercado de trabalho. Ao todo, o projeto já tem a marca de 100 pessoas empregadas, por meio de parceria com empresas e veículos de comunicação. O último, promove a divulgação dos cursos da ONG, como forma de capacitação para quem busca emprego.