Pesquisadores do Observatório de Oncologia avaliaram fatores socioeconômicos, de infraestrutura de Saúde, variáveis de gastos em Saúde nos Estados e comprovaram que onde há maior acesso, uma porcentagem maior de pacientes sobrevive ao diagnóstico de câncer. Ou seja, a desigualdade regional no acesso à Saúde no Brasil apresenta forte associação com a estimativa de sobrevida da doença no país.
Os dados estão no estudo "Desigualdade e câncer no Brasil: uma análise comparativa dos fatores relacionados aos diferentes desfechos por câncer nos estados brasileiros", apresentado no 5° Fórum Big Data em Oncologia "Desigualdade e Câncer", realizado nesta semana.
Para a avaliação, os pesquisadores compuseram o Escore de Acesso à Saúde, a partir dos fatores que melhor caracterizavam as diferenças regionais, como o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), Índice de Gini (que mede a desigualdade na distribuição de renda), porcentagem da população em condição de pobreza, taxa de diferentes tipos de estabelecimentos de saúde, taxa de profissionais de saúde e gasto per capita em saúde.
Dentre as variáveis analisadas, as mais impactantes para a composição do Escore foram a taxa de médicos e taxa de oncologistas por 100 mil habitantes, a proporção da população beneficiária de planos de saúde, o IDH e a proporção da população em condição de pobreza. Apesar destes indicadores serem os mais relevantes, outros dados, como o índice de Gini, taxa de leitos hospitalares, taxa de enfermeiros em hospitais e gasto per capita em saúde também foram importantes para a composição do Escore.
Os estados com os piores Escores de Acesso à Saúde foram Acre, Amazonas, Pará e Maranhão. Os que apresentaram os melhores indicadores foram São Paulo, Santa Catarina e o Distrito Federal. "O Escore de Acesso à Saúde evidencia a grande desigualdade regional existente no país. Os estados da região Norte e Nordeste apresentam os valores mais baixos neste índice, enquanto que os estados das regiões Sul e Sudeste apresentaram os valores mais altos", aponta Felipe Ades, oncologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, um dos responsáveis pelo estudo.
Esta desigualdade no acesso à Saúde apresentou forte associação com a estimativa de sobrevida de câncer. Os estados com os maiores escores também apresentaram maiores estimativas de sobrevida, com uma porcentagem maior de pacientes que sobrevivem ao câncer.
Os dados de sobrevida replicam as desigualdades regionais: os estados das regiões Norte e Nordeste apresentaram as menores estimativas de sobrevida - com destaque para os números de Roraima (11%), Acre (25%) e Pará (28%), enquanto o Sudeste e o Sul apresentaram as maiores - Rio Grande do Sul (68%), Paraná (66%) e Santa Catarina (65%).
Contudo o cenário do desfecho de câncer ainda é muito preocupante em todo o Brasil.
Mesmo os estados com as maiores estimativas de sobrevida ainda estão abaixo de países desenvolvidos como Estados Unidos e Austrália, cujas taxas estão estimadas em 72% e 75% respectivamente. "Os dados evidenciam a necessidade de uma série de estruturas montadas para atender a Oncologia e a Saúde, para que estes pacientes naveguem pelo Sistema como um todo e haja uma mudança dos desfechos por câncer no Brasil", conclui Felipe Ades.