Professores e cientistas ligados à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e à Univille apresentaram nesta sexta-feira (10) uma pesquisa em que mostram um possível ‘boom’ dos casos de coronavírus em SC caso medidas de isolamento sejam afrouxadas. O material foi encaminhado ao reitor Ubaldo César Balthazar como forma de alertar à expansão da Covid-19 no Estado.
O desenvolvimento do material foi liderado pelo professor Oscar Bruna-Romero, do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da instituição, e leva em conta o crescimento na curva de casos de SC em relação ao período de alívio das restrições de convívio social. O estudo mostra que de 1º de abril em diante, quando houve relaxamento do decreto que instituiu a quarentena no Estado, o número de pacientes infectados pelo novo coronavírus disparou (veja os gráficos).
O documento questiona indiretamente o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao citar que o governo de SC não deveria ceder “às falas [...] que pareceriam indicar que a situação é muito menos grave e se encontra sob controle, tendo levado assim a um grande grupo de cidadãos a desrespeitar de forma manifesta as recomendações de isolamento”.
A pesquisa reforça, ainda, que liberar o funcionamento de setores da economia é equivocado; que deixar cada pessoa decidir como deve cuidar de si é errado; e destaca ainda que deixar as pessoas irem trabalhar e circular sem que haja vacina, remédio, ou kits suficientes para testar boa parte da população é algo “de uma irresponsabilidade injustificável aos olhos da ciência”.
Vale destacar que nesta sexta-feira (9) o número de casos da Covid-19 em SC chegou a 693, um crescimento de 38% em relação aos índices de quinta-feira (8). No total, 78 municípios do Estado já tiveram pacientes infectados com a doença e 18 mortes foram motivadas pelo novo coronavírus.
O alerta do professor Bruna-Romero é de que o gráfico de casos em SC tem as características países como Itália e Estados Unidos (veja abaixo) e que milhares poderão morrer em SC caso o governo não mantenha normas rígidas de isolamento horizontal.
Por fim, os pesquisadores alertam que a liberação da retomada gradual da economia no Estado só pode ocorrer após exaustiva testagem de todos os possíveis infectados e somente àqueles que não integrem os grupos de risco. O documento ainda destaca que por conta do índice de contágio em SC nos últimos dias, não existe justificativa para a flexibilização da quarentena.
Procurado pela reportagem, o governo do Estado informou que "todas as decisões sobre as medidas de isolamento social foram anunciadas levando em conta estudos técnicos e apontamentos realizados pelos diversos profissionais que compõem a área técnica da Secretaria de Estado da Saúde". Além disso, o Estado alega trabalhar com avaliação de cenários de números de casos e ocupação de leitos ambulatoriais e de UTI em SC para tomar decisões sobre o isolamento.
Em entrevista coletiva no fim da tarde, o secretário de Saúde de SC, Helton Zeferino, alegou que o Estado optou por um estudo da Imperial College, instituição britânica de ciência, que passou a ser implementado esta semana.
- É interessante que a sociedade científica se una e temos alguns estudos, mas Santa Catarina elegeu o estudo da Imperial College como nossa baliza e agora passamos a ter um resultado mais prático e desenhado para o que acontece dentro do Estado - argumentou.
O governador Carlos Moisés rebateu que o Estado não teve curva aguda, que o Estado possui cenários de até 50 mil óbitos no Estado, mas que a "responsabilidade do cidadão", ao frequentar apenas locais que obedeçam as normas de trabalho seguro, seria a forma de controlar o avanço dos casos à medida em que ocorrem liberação de atividades econômicas. (Colaborou Jean Laurindo)