Com apoio dos prefeitos e dos poderes constituídos, o governador Carlos Moisés anunciou ontem, domingo (29) a prorrogação do período de quarentena de isolamento social por mais sete dias em Santa Catarina, a partir de 1º de abril. A medida segue as orientações da OMS (Organização Mundial de Saúde) para não sobrecarregar o sistema de saúde durante a pandemia do coronavírus, e foi anunciada três dias após o governo do Estado lançar um plano estratégico para retomada gradativa das atividades econômicas no Estado, em resposta ao clamor econômico fomentado no início da semana.
Uma reunião com representantes de 21 associações de municípios e da Fecam (Federação Catarinense dos Municípios) na manhã deste domingo e outra à tarde, com presidentes do TJSC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina), MPSC (Ministério Público de Santa Catarina), TCE (Tribunal de Contas da Estado) e Alesc (Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina) apenas sacramentaram uma convicção que Moisés sinalizava desde quinta-feira, quando lançou o Plano Estratégico. Mesmo pressionado pelo setor produtivo que emitiu uma carta aberta, já fazia questão de dizer que “a crise nem começou”, que a retomada teria de ser “gradativa” e que seria necessário “aprender a conviver com medidas restritivas”.
Os contextos mundial, federal, regional e municipal também ajudaram Moisés a marcar essa posição, nem um pouco abalada pelas carreatas que festejaram o anúncio do desejo de retomada das atividades econômicas na noite da última quinta-feira (26). No mesmo dia em que o governador lançava o plano estratégico que atendia às expectativas do setor produtivo, as redes sociais e os noticiários eram inundados pela história do prefeito de Milão, que agora contava os mortos na cidade industrial após reconhecer o erro de incentivar a retomada econômica.
Na sequência, o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (DEM), anunciou a manutenção da quarentena na Capital em um vídeo que repercutiu nacionalmente pela forma simples e didática utilizada para explicar a necessidade de isolamento social como medida responsiva para garantir o chamado “achatamento da curva”, ou menor contágio, e evitar o colapso do sistema de saúde. Depois do prefeito da Capital, foi a vez dos prefeitos de Palhoça, São José e Biguaçu anunciarem o mesmo.
Mas a explicação para o recuo da posição de retomada da atividade econômica a partir de 1º de abril com a manutenção da quarentena veio diante de cenário federal nebuloso, uma vez que o Ministério da Saúde ainda não cumpriu os compromissos de ajuda ao Estado, como o envio de 20 respiradores.
Segundo Moisés, a ajuda prepararia o sistema para a crise que ele reitera, “ainda não começou”. No sábado, pelo Twitter, o governador já esclarecia a questão. “A retomada das atividades econômicas depende das ações prometidas pelo governo federal, que ainda não se concretizaram, bem como do recebimento do material comprado pelo governo do Estado para combate ao coronavírus. Até lá, continuaremos com medidas de precaução e isolamento”, tuitou.
No anúncio feito neste domingo, segundo Moisés, a única flexibilização diz respeito às obras públicas, obras civis, e os bancos, que a partir de segunda-feira (30) passam a funcionar com uma série de restrições emitida por portaria do Centro de Operações e Emergência em Saúde de Santa Catarina.
Além de buscar apoio, Moisés também alinhou com prefeitos a comunicação de novos casos de coronavírus em SC. Atualmente, são 197 casos, dos quais 16 pacientes estão internados em UTI, ou seja, em situação grave. “Para que a gente não tenha uma série de notícias desencontradas e possa estabelecer um canal que seja fidedigno ao cidadão, e as ações adotadas no Estado e no município sejam as mesmas, para que a gente possa estar junto nessa crise que ainda não começou”, justificou.
No vídeo divulgado para anunciar a prorrogação da quarentena, por último, Moisés fez um apelo. “Fiquem em casa, porque a gente não consegue recuperar as vidas humanas. A economia, nós vamos recuperar, os empregos, a gente vai recuperar, mas as vidas humanas, a gente não consegue resgatar. Vamos proteger os mais vulneráveis para que a gente tenha um impacto menor possível na saída desse processo que nem começou, mitigando seus efeitos, como um menor número de mortos”.
Questionado sobre a mudança de rota anunciada pelo governador, o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, salientou a necessidade de buscar informações e analisar o cenário para a tomada de decisão. “Não me surpreendi com a decisão do governador. Assim como aqui em Florianópolis o governo tem uma equipe qualificada que está monitorando o crescimento do contágio e tomando as melhores decisões para o combate. Novos dados chegam todos os dias e precisamos ter a capacidade de melhorar rumos quando necessário”, declarou.