17/03/2020 às 12h43min - Atualizada em 17/03/2020 às 12h43min

Ibuprofeno deve ser evitado como tratamento para coronavírus

Alerta foi feito pelo Ministro da Saúde da França; estudo recente publicado na 'The Lancet' corrobora a recomendação

- 87 News
VEJA

O uso de alguns anti-inflamatórios, como ibuprofeno e cortisona, pode piorar a doença causada pelo novo coronavírus. O alerta foi feito pelo ministro da Saúde da França, Olivier Véran, em uma publicação no Twitter, no último sábado 14.

 

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| La prise d'anti-inflammatoires (ibuprofène, cortisone, ...) pourrait être un facteur d'aggravation de l’infection. En cas de fièvre, prenez du paracétamol.
Si vous êtes déjà sous anti-inflammatoires ou en cas de doute, demandez conseil à votre médecin.


“A ingestão de anti-inflamatórios [ibuprofeno, cortisona…] pode ser um fator para agravar a infecção. Em caso de febre, tome paracetamol. Se você já está tomando medicamentos anti-inflamatórios, peça conselhos ao seu médico”, escreveu Véran, médico especializado em neurologia.

A recomendação veio no mesmo dia em que o governo francês informou que “graves efeitos adversos” relacionados ao uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) – a família de medicamentos que inclui o ibuprofeno – “foram identificados entre os pacientes” afetados pela Covid-19.  “Repetimos que o tratamento de febre ou dor associada à Covid-19 ou a qualquer outra doença viral respiratória deve ser paracetamol”, dizem as novas diretrizes do Ministério da Saúde da França.

O alerta foi criticado por especialistas em saúde de outros países, que citaram a falta de evidências científicas sobre a associação entre o ibuprofeno e efeitos adversos do coronavírus. Porém, um estudo publicado recentemente na renomada revista científica The Lancet mostra que medicamentos que ativam a ECA2, um receptor presente naturalmente no corpo humano, podem potencializar a ação do novo coronavírus.

Isso acontece porque o novo coronavírus usa esses receptores ECA2 para invadir as células de suas vítimas, segundo um estudo anterior publicado na revista Science. Logo, a presença de uma maior quantidade desses receptores no organismo levaria a uma potencialização da ação do vírus. Vale ressaltar que o estudo da The Lancet foi apenas observacional e não indica uma relação de causa e consequência.

Diversos estudos anteriores mostraram que o uso de anti-inflamatórios por pessoas com doenças infecciosas pode ser um risco porque eles tendem a diminuir a resposta do sistema imunológico do corpo. Um estudo publicado no BMJ mostrou que pacientes com infecções respiratórias, como tosse, resfriado e dor de garganta que receberam ibuprofeno em vez de paracetamol, tiveram maior probabilidade de sofrer doenças ou complicações graves. “Existem boas evidências científicas para o ibuprofeno agravar a condição ou prolongá-la”, disse o virologista Ian Jones, da Universidade de Reading, no Reino Unido, ao jornal The Guardian.

“Não recomendamos anti-inflamatório por causa dos efeitos colaterais”, disse o infectologista Celso Granato, diretor médico do Grupo Fleury. O paracetamol, por outro lado, seria capaz de reduzir a febre sem atrapalhar a resposta do corpo à infecção. Porém, diversos estudos também associaram o uso de paracetamol a problemas de saúde.

Vale lembrar que a recomendação do Ministério da Saúde de da França específica para o uso de ibuprofeno e outros anti-inflamatórios no tratamento de coronavírus. Quem já faz uso de ibuprofeno e outros medicamentos que aumentem receptores ECA2 não devem, em hipótese alguma, parar de tomar o medicamento por conta própria. Parar um tratamento é tão perigoso quanto a automedicação. Em caso de dúvidas, o ideal é conversar com seu médico.

Confira abaixo o artigo científico publicado pela The Lancet:
 

As comorbidades mais distintas de 32 não sobreviventes de um grupo de 52 pacientes de unidade de terapia intensiva com nova doença de coronavírus 2019 (COVID-19) no estudo de Xiaobo Yang e colegas eram doenças cerebrovasculares (22%) e diabetes (22%). Outro estudo incluíram 1099 pacientes com COVID-19 confirmado, dos quais 173 tinham doença grave com comorbidades de hipertensão (23,7%), diabetes mellitus (16,2%), doenças coronárias (5,8%) e doença cerebrovascular (2). 3%). Em um terceiro estudo, dos 140 pacientes que foram internados no hospital com COVID-19, 30% tinham hipertensão e 12% tinham diabetes. Notavelmente, as comorbidades mais frequentes relatadas nesses três estudos de pacientes com COVID-19 são freqüentemente tratadas com inibidores da enzima de conversão da angiotensina (ECA); no entanto, o tratamento não foi avaliado em nenhum dos estudos.
Os coronavírus patogênicos humanos (coronavírus da síndrome respiratória aguda grave [SARS-CoV] e SARS-CoV-2) se ligam às células-alvo através da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2), que é expressa pelas células epiteliais do pulmão, intestino, rim, e vasos sanguíneos.  A expressão de ACE2 é substancialmente aumentada em pacientes com diabetes tipo 1 ou tipo 2, que são tratados com inibidores da ECA e bloqueadores dos receptores da angiotensina II tipo I (BRA).  A hipertensão também é tratada com inibidores da ECA e BRA, o que resulta em uma regulação positiva da ECA2. A ACE2 também pode ser aumentada por tiazolidinedionas e ibuprofeno. Esses dados sugerem que a expressão da ACE2 é aumentada no diabetes e o tratamento com inibidores da ECA e BRA aumenta a expressão da ACE2. Consequentemente, o aumento da expressão de ACE2 facilitaria a infecção por COVID-19. Portanto, supomos que o tratamento do diabetes e da hipertensão com medicamentos estimulantes da ECA2 aumente o risco de desenvolver COVID-19 grave e fatal.
Se essa hipótese fosse confirmada, poderia levar a um conflito em relação ao tratamento, pois a ECA2 reduz a inflamação e tem sido sugerida como uma nova terapia potencial para doenças inflamatórias pulmonares, câncer, diabetes e hipertensão. Outro aspecto que deve ser investigado é a predisposição genética para um risco aumentado de infecção por SARS-CoV-2, que pode ser devido a polimorfismos da ECA2 que foram associados a diabetes mellitus, acidente vascular cerebral e hipertensão, especificamente em populações asiáticas. Resumindo essas informações, a sensibilidade de um indivíduo pode resultar de uma combinação de terapia e polimorfismo da ECA2.
Sugerimos que pacientes com doenças cardíacas, hipertensão ou diabetes, que são tratados com medicamentos que aumentam a ECA2, têm maior risco de infecção grave por COVID-19 e, portanto, devem ser monitorados quanto a medicamentos moduladores da ECA2, como inibidores da ECA ou ARBs. Com base em uma pesquisa do PubMed em 28 de fevereiro de 2020, não encontramos nenhuma evidência que sugira que os bloqueadores anti-hipertensivos dos canais de cálcio aumentem a expressão ou atividade da ACE2; portanto, esses podem ser um tratamento alternativo adequado nesses pacientes.

 


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