04/12/2023 às 23h36min - Atualizada em 07/12/2023 às 09h45min

Brasil perde R$1 bi em produtividade com câncer de pulmão

Segundo pesquisa do Insper, o alto custo da doença se deve ao diagnóstico tardio, que eleva as taxas de mortalidade. Especialistas apontam necessidade de campanhas de prevenção e políticas de rastreamento e diagnóstico precoce

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O câncer de pulmão no Brasil gerou custos econômicos de mais de R$1 bilhão em 2019. O cálculo faz parte de pesquisa do Insper divulgada durante evento sobre prevenção e tratamento desse tipo de câncer, promovido no dia 24 de novembro pelo Fórum Intersetorial para Combate às Doenças Crônicas não Transmissíveis no Brasil (FórumDCNTs). O valor refere-se aos custos indiretos, ou seja, relacionados à redução da produtividade em decorrência do óbito de pessoas com idade inferior à de sua aposentadoria (grupo que corresponde a 1/3 das quase 30 mil mortes anuais por câncer de pulmão), ao absenteísmo no trabalho e à aposentadoria precoce.

Apesar de ser o quarto tipo mais incidente no Brasil (atrás dos cânceres de próstata, mama e cólon e reto), o câncer de pulmão é o que mais mata. Em 2019, a doença causou 29,3 mil mortes no país, enquanto os tumores de próstata e mama não chegaram a 20 mil cada. Por conta disso, de acordo com o Insper, os custos indiretos do câncer de pulmão se aproximam da perda de R$1 bilhão e 380 milhões provocada pelo câncer de mama, o qual apresenta quase o dobro de casos por ano em relação ao primeiro.

A alta morbimortalidade do câncer de pulmão está relacionada ao diagnóstico tardio, realizado, na maioria das vezes, nos estágios III e IV do desenvolvimento do tumor, nos quais as chances de cura são mínimas ou nulas. “Preocupa-nos que a população esteja bem informada sobre quando suspeitar de uma alteração pulmonar e a atenção primária apta a agir em tempo oportuno para rastreio e diagnóstico precoce, o que melhorará drasticamente o cenário atual”, enfatiza o coordenador geral do FórumDCNTs, Mark Barone.

A pesquisa do Insper também mapeou e classificou as principais barreiras para a implementação de uma política nacional de rastreamento de câncer de pulmão, assim como sistematizou propostas de soluções. “Dentre as sugestões, encontram-se melhorias em centros de excelência; aproveitamento da alta capilaridade da atenção primária do SUS, com o engajamento de seus profissionais na triagem, convencimento da população de risco e navegação do usuário no sistema; e criação de protocolos que considerem prevenção, rastreamento, diagnóstico, tratamento e reabilitação”, expõe Carolina Melo, professora de Políticas Públicas e Economia no Insper.

A importância do suporte para cessação de fumar também é sublinhada por especialistas. “Estudos mostram que as pessoas que param de fumar aos 50 anos reduzem em, aproximadamente, 90% o risco de câncer de pulmão aos 75 anos. Pessoas que ficaram abstinentes durante sete anos apresentaram uma redução de 20% no risco de mortalidade”, afirma Paulo Correa, coordenador da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).

Além de insistir na relevância da prevenção e combate a todas as formas de consumo de tabaco, inclusive o vape (cigarro eletrônico), Gustavo Prado, gerente de inovação e educação médica no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, sugere ações para efetivar o diagnóstico precoce no país. “Devemos melhorar a jornada da pessoa com sintomas sugestivos de câncer de pulmão dentro do sistema de saúde, que hoje é muito lenta e fragmentada", comenta. Ele reforça também a necessidade em agilizar o encaminhamento para o diagnóstico daquelas pessoas cujos exames de imagem (realizados por outros motivos, como gripes) revelam achados anormais. "E sobretudo, é imprescindível uma política de rastreamento, ou seja, a busca ativa de pessoas assintomáticas por meio de tomografia, à semelhança do que já ocorre com a mamografia para detecção de câncer de mama”, elenca.

Experiências locais de rastreamento e melhor gestão do sistema de saúde mostram resultados positivos e podem ser replicadas. Médicos do Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC), em Porto Alegre (RS), por exemplo, tiveram a iniciativa de fazer o rastreamento por tomografia computadorizada de baixa dose nas pessoas atendidas pelo Serviço de Pneumologia. A atividade envolveu a discussão e padronização de condutas, investigação e manejo de pessoas com anormalidades observadas. Segundo Fábio Svartman, pneumologista do HNSC, foram encontrados nódulos suspeitos em 14% das 712 pessoas rastreadas, sendo que 1,5% foram confirmados como câncer de pulmão. Destes casos, ⅔ estavam nos estágios I e II, o que permitiu a realização de tratamentos com intenção curativa.

O hospital também instituiu o projeto Relógio do Câncer, com o intuito de diminuir o tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento a partir da integração e monitoramento de informações dos prontuários eletrônicos. “Com isso, identificamos gargalos, priorizamos exames e consultas, e fizemos busca ativa de quem faltava. Entre junho de 2021 e fevereiro de 2023, reduzimos a média de dias entre diagnóstico e tratamento de 63 para 43”, informou Svartman.

Chama a atenção a falta de visibilidade dessa doença silenciosa. “Temos a campanha Novembro Branco, de conscientização sobre o câncer de pulmão, mas ela é pouco difundida em relação ao Novembro Azul, que trata do câncer de próstata. Precisamos de ações mais robustas e constantes nesse sentido”, defende Helena Esteves, coordenadora de advocacy no Instituto Oncoguia. “Para melhorar o atual cenário, não devemos esquecer da educação dos profissionais de saúde, pois muitos deles não possuem informações suficientes sobre os sinais e sintomas do câncer de pulmão”, acrescenta.

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