“Quando a gente fala nos direitos das meninas, é muito importante pensar no papel que os homens e os meninos têm. Não são problemas só das mulheres. São problemas de todos. Se as mulheres não são tratadas de maneira justa, isso afeta a todos. Isso afeta a economia. Quando nós perdemos oportunidades para estudar, isso pode custar milhões de dólares. Mas quando temos acesso à educação, isso representa um adicional de milhões de dólares. A questão de gênero e da economia social é importante. Por isso a participação dos homens é crítica. Eles têm um papel dentro da família de apoiar mães, filhas e irmãs. Sou muito grata por ter tido um pai que me apoiou. Homens corajosos podem realmente mudar a vida das mulheres”.
“Ninguém deve decidir por mim como eu devo viver a minha vida, que atividades eu posso fazer, que emprego devo ter. Essa decisão é minha como mulher e menina. Para todas que estão aqui hoje, qualquer carreira que vocês escolherem, façam porque é a paixão de vocês e não por ceder a uma pressão. Quando alguém disser que vocês não podem fazer, que não é pra vocês, olhem para os modelos de mulheres e inspirações anteriores para saber que vocês podem, sim. E se não houver mulheres ali, vocês pode ser as primeiras. Desafiem. Provem que as mulheres podem fazer o que elas querem”.
Em outubro deste ano, a autobiografia Eu sou Malala, que narra a história da ativista, completa 10 anos. Por ter se envolvido desde cedo na luta pelo direito à educação, ela foi alvo de um ataque do grupo Talibã em outubro de 2012, no nordeste do Paquistão, quando voltava da escola. Atingida por uma bala, passou dias em estado grave. Durante a recuperação, foi transferida para um hospital na Inglaterra, onde reside atualmente. Ela criou, ao lado do pai, o Fundo Malala em 2013, voltado para promover a educação universal de meninas em todo o mundo. Em 2014, aos 17 anos, foi a pessoa mais jovem a receber o Prêmio Nobel da Paz. Em 2020, concluiu a graduação em filosofia, política e economia na Universidade de Oxford.
“A minha história não é uma história única. Havia muitas meninas assim, inclusive no vale do Suate, no Paquistão, que estavam protestando pelos direitos delas que eram infringidos. Mas, na maior parte dos casos, eram os pais e irmãos que impediam as filhas e irmãs de falarem e de lutarem por seus direitos. A única coisa diferente na minha história é que o meu pai não me parou. Muitas meninas são impedidas pelos homens. Nós não precisamos de um poder especial, de uma qualificação especial. Nós temos capacidade. Não devemos ser impedidas, devemos fazer tudo aquilo que queremos”.
Malala também comentou a importância de combater a desinformação e os discursos de ódio na internet. Para ela, a educação digital deve ser discutida de forma ampla, inclusive em escolas, e todos os envolvidos na produção, no consumo e na circulação de informações devem assumir responsabilidades.
“Toda ferramenta que usamos tem um lado positivo e um negativo. E todos nós temos responsabilidades com isso. Claro, existem as políticas públicas que devem trazer regulações, para diminuir e reduzir os danos. Mas as pessoas que estão por trás dessas empresas também deveriam ter um senso de responsabilidade. E, no fim, também os usuários têm um papel de procurar estar mais informados, mais educados sobre o que compartilham. Que seja levada a educação digital para as escolas e que as próximas gerações possam ser educadas sobre como se proteger da falta de informação, contra a desinformação e de conteúdos que possam provocar danos. A educação é importante, mas também deve existir uma tomada individual de consciência.”