Nas democracias não há procedimento mais importante e essencial do que as eleições. Por meio desses processos, as pessoas escolhem seus representantes políticos que, nos anos seguintes, serão os responsáveis por cuidar, respeitar e zelar pela vida em comunidade. A questão é que essa relevância em toda a sociedade também atrai a atenção de grupos que tentam burlar as regras em prol de um candidato em detrimento de outro. A mais recente arma é a disseminação das fake news, um artifício que pode comprometer a imagem de um político diante da opinião pública.
A prática de notícias falsas está englobada no conceito de desinformação. A ideia é simples: divulgar boatos e mentiras no formato de um relato jornalístico, seja na construção textual ou na estética da apresentação, para confundir a população sobre determinado tema. Pode servir tanto para potencializar a imagem de uma pessoa como também para comprometer a de um adversário. Isso não chega a ser novidade no marketing eleitoral, uma vez que a mentira sempre foi uma estratégia antiética utilizada por candidatos e governantes. O problema é que, a partir do avanço da tecnologia atualmente, diversos grupos utilizam robôs para difundirem esses conteúdos.
A facilidade de difusão da internet e a própria influência das redes sociais digitais estão entre os principais motivos para o aumento das fake news nos últimos anos, principalmente durante processos eleitorais. À medida que a presença da web avançou em diferentes classes sociais, ficou mais fácil ter acesso à forma como os veículos produzem informações. Desse modo, gera-se uma descrença da população, fazendo com que as pessoas se contraponham às mídias mais tradicionais, como jornais, rádio e televisão. Hoje, confia-se muito mais no conteúdo que chega por grupos com os quais o indivíduo se identifica e pode contribuir. Contudo, isso é um grande risco, uma vez que ela pode contribuir, ainda que de forma inconsciente, para a propagação acelerada de um relato inverídico.
Em uma campanha para eleição, portanto, candidatos precisam ficar atentos às fake news, tanto para não divulgá-las quanto para se protegerem delas. Na eleição de 2020 para prefeitos e vereadores, os cuidados em relação ao tema devem ser incluídos no trabalho de campanha. Além das estratégias corriqueiras de marketing político e eleitoral, é importante criar formas de monitoramento e, principalmente, de ação imediata diante de uma notícia falsa que pode comprometer uma imagem. Saber o que está sendo falado nas redes sociais e quais medidas devem ser tomadas rapidamente é fundamental para os políticos.
Na última eleição realizada no Brasil, em 2018 (para governadores, deputados, senadores e presidente), quatro em cada cinco pessoas acreditaram que as fake news influenciaram o processo eleitoral, segundo levantamento da Transparência Internacional. Além disso, 40% das pessoas em todo o mundo admitem que ficam mais preocupadas com informações falsas provenientes de políticos e governantes, segundo o Relatório de Notícias Digitais 2020, produzido pelo Instituto Reuters.
Infelizmente, este é um mal que continuará existindo em eleições e procedimentos políticos nos próximos anos. Afinal, como já citado, fake news não é algo novo, mas encontraram espaço propício para crescerem e se propagarem em velocidade cada vez maior. Assim, não há outra escolha: para mitigar essa ameaça e ficar imune a seus impactos negativos é preciso ter planejamento e agir. Quanto mais cedo for feita essa identificação e haver controle, menos efeitos negativos uma notícia falsa e fraudulenta pode causar a uma campanha e à imagem.
* Duílio Fabbri Júnior é doutor em Discurso Político e coordenador do curso de Publicidade e Propaganda, unidade Americana, campus Maria Auxiliadora, do Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL - e-mail: unisal@nbpress.com .