Sempre que as crises econômicas acontecem, seja qual for sua origem, o governo lança mão de alguns instrumentos para tentar conter seus efeitos. A facilitação de crédito, parcelamentos de débitos e prorrogação de vencimentos de impostos são alguns mais comuns.
Ao realimentar o meio circulante, o crédito fica mais facilitado e isso leva as pessoas a ampliar o consumo, aquecendo a economia.
Trata-se de características inerentes ao sistema capitalista, cujo funcionamento se dá em ciclos econômicos. Exemplo disso, foi a previsão do bilionário e investidor norte americano Raymond Thomas Dalio, ou Ray Dalio, como é chamado, que anteviu a crise de 2008, ao afirmar que a economia tem dois ciclos básicos de desenvolvimento:
• Short Term Debt Cycle STDC (Ciclo de Dívida de Curto Prazo).
• Long Term Debt Cycle LTDC (Ciclo de Dívida de Longo Prazo).
Os dois ciclos são caracterizados pela expansão do crédito. Porém, o LTDC, quando realimentado constantemente leva à insolvência.
No chamado ciclo de dívida de curto prazo (STDC), onde o aquecimento da economia se dá por meio da facilitação de linhas de crédito, há uma corrida ao consumo, ocasião em que as pessoas tomam mais dinheiro emprestado e aumentam seu endividamento.
Contudo, no curto prazo, o alto volume de dívidas compromete a renda das famílias, que, com o consequente aperto no orçamento, diminuem os gastos, desaceleram a economia e provocam efeitos já conhecidos como a retração do comércio, redução da produção e o desemprego, repetindo a cadeia de consequências. Esse curto período de crescimento é costumeiramente chamado de ‘voo de galinha’, pois não se mantém por muito tempo.
A ocorrência desses movimentos de expansão e contração da economia cria condições perfeitas para a crise de dívida de longo prazo.
No contraponto, por ter como característica principal o planejamento, a educação financeira e disciplina, o Sistema de Consórcios contribui para um crescimento mais sólido e duradouro da economia. Ao considerar essas particularidades, a assessoria econômica da ABAC Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios analisou um dos indicadores bastante significativos da modalidade: os "créditos pendentes de utilização".
Esses cotistas se encontram em uma situação privilegiada, ‘com a faca e o queijo na mão’, prontos para adquirir bens com objetivos diversos, tais como rendas futuras com aluguéis ou advindas do uso de veículos para trabalho e transporte, ou máquinas e equipamentos utilizados em processos produtivos ou na prestação de serviços, ou simplesmente realizar seu sonho de consumo, sempre de forma programada. Considerando os mais de 500 mil créditos pendentes de utilização, possivelmente muitos desses consorciados já quitaram boa parte de suas parcelas beneficiando a economia com um consumo mais sustentável financeiramente, ou seja, com menos endividamento.
Os números, impressionam, e mostram o potencial que o Sistema de Consórcios possui neste momento de retomada da economia.
O estudo se ateve aos segmentos de imóveis, veículos pesados, veículos leves e motocicletas, onde há diversidade de interesses.
Na análise, os volumes por segmento apresentaram as seguintes situações:
Segmento de Veículos Pesados - Ao incluir caminhões, ônibus, tratores, máquinas agrícolas e implementos rodoviários, a soma disponível dos créditos não utilizados é 192% maior que as vendas do mês de junho, ou seja, um potencial de comercialização de 3 veículos para cada 1 negociado no país.
Segmento de veículos leves - Neste setor, que conta com automóveis, utilitários e camionetas, a relação é de 2 veículos para cada 1 vendido, visto que a disponibilidade de créditos não utilizados é 131% maior do que as vendas totais de veículos leves, por exemplo, as de junho no Brasil.
Segmento de motocicletas - A exemplo do segmento de pesados, para motocicletas há também uma relação de quase 3 veículos para cada 1 negociado, pois em junho a quantidade de cotas contempladas pendentes de utilização representava 166% das vendas desse veículo no país.
Segmento de imóveis - Na análise do segmento de imóveis, a utilização das aquisições via financiamento, que, somadas àquelas adquiridas por meio do Sistema de Consórcios, totalizaram 38.100 imóveis, como residências, apartamentos, terrenos, casas de veraneio e comerciais, adquiridos parceladamente em junho.
Verifica-se que o estoque de créditos pendentes de aquisição é 128% maior do que o total vendido em junho por intermédio de uma das duas alternativas, ou seja, 2 imóveis para cada um financiado.
Por fim, ao se valorizar as cotas com o tíquete médio de junho, atingiu-se o equivalente a R$ 35,6 bilhões de reais.
Na relação da participação dos valores de créditos pendentes de aquisição com o PIB de 2019, constata-se o percentual de 0,5%, e de 2,0% em relação ao PIB do primeiro trimestre de 2020.
Por tudo, o Sistema de Consórcios mostra ser mecanismo sólido, genuinamente brasileiro, possível de alinhamento com o desenvolvimento econômico sustentado.
Segundo Paulo Roberto Rossi, presidente executivo da ABAC, "há quase seis décadas, o Sistema de Consórcios tem sido um dos alavancadores da economia. Da adesão à contemplação, a modalidade contribui direta e indiretamente para o planejamento da produção disponibilizando créditos que impulsionam os diversos setores econômicos". Para os contemplados as vantagens são inúmeras, tais como créditos com valores atualizados que de outra forma, com as baixas taxas de juros das aplicações financeiras, demandariam maior tempo para serem formados. Outra vantagem é o poder de compra à vista, o que propicia a negociação de descontos, e por fim parcelas compatíveis com a capacidade de pagamento de cada um.
Ao lembrar que nesse período nosso país enfrentou várias crises e planos econômicos, Rossi comentou que "sempre presente como investimento pessoal, profissional ou empresarial, os consórcios atravessaram turbulências e funcionaram como verdadeiros ‘lubrificantes’ da engrenagem econômica, geraram empregos, recolheram impostos, formaram consumidores conscientes da necessidade de planejamento e, por resultado, movimentaram os setores comercial, industrial e prestador de serviços."