Não há dúvida que estamos vivendo a maior crise da história, com impactos diretos primeiramente na saúde e, em consequência, na economia. Todos os dias os noticiários apontam novos casos de pessoas contaminadas pelo vírus Covid-19 e colapsos no mercado econômico.
Dentro desse cenário, o Especialista em Investimentos da Unicred Aliança, Danilo Brito, traça um panorama do mercado financeiro e de como as instituições financeiras devem trabalhar para auxiliar o Banco Central do Brasil na condução da política monetária.
Nos últimos 3 meses o Banco Central do Brasil, assim como a maioria dos bancos centrais de outros países, tem realizado diversas ações na condução da política monetária afim de manter a funcionalidade dos mercados e apoiar a economia real.
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual, para 3,00% a.a. em sua última reunião nos dias 5 e 6 de maio de 2020. Tal decisão foi embasada nas perspectivas econômicas e inflacionárias para os próximos anos. O comitê ainda registrou em ata que poderá realizar mais cortes nas próximas reuniões.
Sem renunciar à solidez e estabilidade do Sistema Financeiro Nacional, o Banco Central do Brasil, vem promovendo uma ampliação na concessão do crédito pelas instituições financeiras.
Programa Emergencial de Suporte a Empregos
De acordo com Brito, uma das principais preocupações do governo é quanto ao aumento do desemprego no Brasil devido as incertezas econômicas. "Umas das primeiras ações adotadas pelo Banco Central foi aprovação da Medida Provisória MP944/2020 que visa financiar por 2 meses a folha de pagamento de empresas que possuem renda bruta anual entre R$360.000,00 à R$10.000.000,00". Ele ainda complementa que muitas empresas que não se enquadram neste faturamento, deverão recorrer as linhas convencionais já existentes nas instituições financeiras.
Ainda sobre a linha, o consultor comenta que "não existe almoço grátis" e que a medida é excelente para o momento, porém possui uma taxa de juros de 3,75% ao ano. Apesar de muito baixo, se comparado a outras linhas, é importante lembrar que esses juros são do Banco Central.
"A taxa de juros do Banco Central realmente veio para ajudar o empresário nessa pandemia. Porém, deve-se estar atento à seguinte condição: a taxa de juros de 3,75% ao ano faz parte dos 85% que dizem respeito ao Banco Central. Logo, o restante (15%) do valor, vem do banco comercial que está cedendo o empréstimo e esse, por sua vez, deve aplicar um juro mais alto, somado ao juro do BC em função do aumento de risco dos tomadores".
O assessor alerta, também, sobre a importância de pesquisar o mercado e de se planejar sobre as perspectivas futuras na hora de contratar um empréstimo.
"O empresário precisa refletir como estará a situação de seu negócio para daqui quatro ou cinco meses, e avaliar se terá condições de honrar o pagamento dos empréstimos pactuados neste período de quarentena. O empresário precisa considerar que o custo do empréstimo, somado ao custo de sua folha de pagamento poderá ser muito elevado, dependendo da forma e prazo da operação. Por isso é extremamente importante colocar tudo na ponta do lápis".
Cartão de Crédito
Segundo o Instituto Brasileiro de Defesa ao Consumidor - IDEC, nesse período de pandemia os bancos intensificaram as soluções já existentes para dívidas com cartão de crédito como, por exemplo, o parcelamento.
O que vale lembrar é que dívidas nesse período podem até ser postergadas, mas não esquecidas, e que é responsabilidade de cada usuário dessa modalidade de crédito procurar a administradora de seu cartão regularizar e negociar seus débitos, como explica Danilo.
"Quanto ao cartão de crédito, não foi criada nenhuma medida específica para financiamento das faturas por parte do Banco Central. Caso um usuário de cartão de crédito tenha necessidade de recursos para pagamento destas faturas, o ideal é que ele procure antecipadamente sua administradora de cartões ou até mesmo uma instituição financeira que ofereça uma linha de crédito de crédito pessoal para que ele possa quitar seus débitos. As operadoras de cartões têm interesse em manter seus usuários em dia, mesmo que renuncie ao recebimento do principal neste momento através de uma carência. Mas é importante que o usuário tenha ciência que toda a carência não é isenta de juros".
Volta à normalidade
De acordo com a MB Associados, a crise para esse ano deve superar, e muito, a crise de 2008, no que diz respeito à economia. A consultoria prevê um recuo de 0,3% na atividade econômica no primeiro trimestre de 2020, na comparação com o ano passado. E de 6,5% no segundo trimestre.
Para o consultor Danilo Brito, a previsão de início da retomada da atividade econômica no Brasil será lenta e gradual devido aos impactos severos causados pelo Covid-19.
"Apesar dos esforços do Banco Central, a crise atual está provocando uma desaceleração acentuada na economia brasileira e internacional. Devemos ter um crescimento negativo neste ano em relação a 2019. Ou seja, toda a riqueza produzida no país (PIB) esse ano será inferior ao ano passado, daí o motivo no aumento do desemprego. Acredito que nossa recuperação será de média e longo prazo, e dependerá de fatores como economia externa, a condução do cenário político por parte de nossos governantes e claro, de uma solução eficaz da crise sanitária," finaliza o especialista.