O problema está no excesso de estoques do produto por conta da queda na demanda. No mundo todo, há sinais da falta de locais para armazenamento. Cerca de 160 milhões de barris de petróleo estão alojados em navios-tanque, segundo a Reuters - um número recorde, bem acima dos 100 milhões de barris que estavam nessa mesma situação no auge da crise financeira de 2008.
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Os estoques de petróleo em Cushing, cidade que é o principal centro de armazenamento dos Estados Unidos, aumentaram para 55 milhões de barris, alta de 48%, desde o fim de fevereiro. De acordo com a Energy Information Administration, agência estadunidense que analisa informações sobre energia, o local tinha capacidade de armazenamento operacional de 76 milhões em 30 de setembro do ano passado.
"Não há limite para o lado negativo dos preços quando os estoques e os oleodutos estão cheios", publicou Pierre Andurand, gerente de fundos de hedge (uma espécie de proteção contra as oscilações do preço) de commodities, no Twitter. "Preços negativos são possíveis”, acrescentou.
Para os analistas, a liquidação em massa ocorre para evitar a entrega física do barril de petróleo, em um contexto em que não há espaço para armazenamento.
"A redução na exploração nos EUA está ganhando ritmo, mas não é rápida o suficiente para evitar o gargalo no armazenamento", disse Paul Horsnell, chefe de commodities da Standard Chartered.
Na última sexta-feira (17), até mesmo a China anunciou uma contração econômica, a primeira em décadas. É um retrato do que está por vir em outras grandes economias que ainda nem saíram dos bloqueios causados pelo coronavírus.
"Há um pouco de exagero no que estamos vendo hoje", afirmou Ilan Solot, estrategista do banco estadunidense Brown Brothers Harriman (BBH). "Mas isso não afasta a questão de que há uma oferta brutal [da commodity]", disse Solon. "Realmente é algo inédito, mas muito específico desse vencimento", completou Marcos de Callis, estrategista da Hieron, empresa de investimentos.