O início da primavera traz à Alemanha cerca de 300 mil trabalhadores sazonais vindo de países do Leste Europeu para auxiliar agricultores locais na colheita de diversas culturas. A temporada começa com o aspargo, que ocupa grande parte das terras cultivadas no país, aproximadamente 23 mil hectares, o equivalente a quase um quinto da área de cultivo de legumes ao ar livre.
Neste ano, porém, a pandemia do novo coronavírus trouxe um desafio à agricultura alemã, pois o fechamento das fronteiras em vários países no continente impediu o deslocamento desta mão de obra vinda do exterior.
Além do aspargo, as colheitas de morango, maçã, pera, diversos tipos de legumes e de uva, para a produção de vinho, dependem de trabalhadores sazonais. Eles também representam grande parte da mão de obra em abatedouros de porcos no país.
Para a temporada de colheitas, que começa em abril e se estende até final de setembro, agricultores alemães contam com trabalhadores que vem, sobretudo, da Polônia e Romênia, geralmente de ônibus, e costumam passar de três a quatro meses trabalhando em campos do país.
Com as fronteiras fechadas, ônibus trazendo esses grupos não podem mais trafegar por países que fazem parte da rota até a Alemanha. O secretário-geral interino da Associação de Agricultores Alemães (DBV), Udo Hemmerling, contou que, pouco antes do próprio governo alemão anunciar o fechamento de suas fronteiras, alguns trabalhadores foram trazidos da Romênia em voos fretados, mas agora, nem esse tipo transporte é possível.
Soluções internas
Enquanto o impasse do fechamento de fronteiras e da mobilidade de mão de obra sazonal não é solucionado, o Ministério da Alimentação e Agricultura da Alemanha vem buscando alternativas para diminuir os impactos da crise da pandemia da covid-19 no setor.
Entre as iniciativas está o lançamento da plataforma "Das Land hilft" (O país ajuda), que liga agricultores a voluntários que desejam trabalhar no campo. Assim estudantes, autônomos e pessoas que estão sem ocupação no momento devido às medidas restritivas de isolamento social impostas no país podem contribuir para o funcionamento do setor agrícola e ainda receber por isso.
"Qualquer pessoa que pode e quer ajudar na agricultura deve, portanto, fazê-lo e também deve poder ganhar dinheiro com isso. É uma situação na qual todos ganham", destacou a ministra alemã da Alimentação e Agricultura, Julia Klöckner, no lançamento da plataforma, em meados em março.
De acordo com uma porta-voz do ministério, até 31/03, aproximadamente 40 mil voluntários se inscreveram na plataforma e alguns deles já começaram a trabalhar no campo.
A ministra da Agricultura também vem defendendo a flexibilização das leis de migração, para que requerentes de refúgio, que pela legislação alemã não têm permissão de trabalhar, possam ocupar essas vagas, se tiverem interesse, durante esse período de crise.
Na quinta-feira (02/04), Klöckner anunciou que o governo alemão pretende liberar a entrada de 80 mil trabalhadores sazonais até o final de maio. Eles deverão passar por exames, e se houver suspeita de infecção não poderão viajar para a Alemanha. Os grupos serão transportados por via aérea e devem ficar em quarentena por 14 dias ao chegar no país. Poderão, no entanto, trabalhar nesse intervalo, mas sem ter contato com outros funcionários.
Para diminuir os impactos econômicos da crise para os agricultores, o grupo foi incluído no pacote de ajuda emergência de 50 bilhões de euros (R$ 280 bilhões) destinado a pequenas empresas e autônomos. Eles podem receber um auxílio financeiro de até 15 mil euros (R$ 84 mil) para cobrir as despesas.
O ministério também aumentou de 70 dias para 115 dias o período no qual trabalhadores sazonais podem atuar no país sem precisar contribuir para o sistema de segurança social alemão. Desta maneira, aqueles que já chegaram à Alemanha poderão continuar trabalhando no campo por um período maior. A flexibilização fica em vigor até 31 de outubro.