Ainda que bastante atrasados, o Conselho de Segurança da ONU e grupos como o G7 se reuniram para debater a pandemia de COVID-19, que já vitimou quase 32 mil pessoas ao redor do mundo.
Esse esforço internacional para cooperar foi ceifado pela insistência dos EUA em classificar o novo coronavírus como "vírus chinês", ou "vírus de Wuhan", como queria o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo.
"O foco do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, em [...] colocar a culpa na China ajudou a garantir que não haveria nenhuma resposta coletiva significativa" à pandemia, escreveu o The Guardian.
Para alguns aliados dos EUA, debater questões de linguagem enquanto o mundo enfrenta o que pode ser a maior crise desde a Segunda Guerra Mundial pareceu uma "manifestação clara de falta de liderança dos EUA".
Enquanto isso, a mídia mundial cobria o envio de ajuda humanitária de países como China e Rússia para a Itália.
Os EUA, por sua vez, estavam "silenciosamente importando meio milhão de cotonetes especiais para diagnóstico" de coronavírus "fabricados na Itália" e o presidente dos EUA, Donald Trump, "no telefone com o presidente da Coreia do Sul, pressionando-o a enviar kits para testes".
Para a diretora do Instituto Italiano de Relações Internacionais, Nathalie Tocci, "o que me choca é a ausência dos EUA no debate público. Os EUA estão basicamente fora do mapa, e a China está no mapa".
Conforme a situação epidemiológica da China melhora, o país parece estar aprimorando a sua imagem internacional com sucesso, ao fornecer ajuda aos países mais afetados.
Os EUA, por outro lado "intensificam a pressão econômica em seus inimigos, o Irã e a Venezuela, cujas populações estão em alto risco por causa do coronavírus", lembrou o jornal britânico.
"A liderança dos EUA não vai acabar por causa do estrago que fizeram à sua resposta ao coronavírus, mas acho que um dia vão entender que esse foi um ponto de inflexão", disse a diretora do Projeto de Dissuasão Moderna do Instituto Real de Serviços Unidos de Londres, Elisabeth Braw.
Para ela, a China "está em posição de assumir a liderança global, e está esperando que os EUA deem um passo em falso para perder o apoio de seus aliados".
Stephen Walt, professor de Relações Internacionais de Harvard, lembra que um dos pilares da liderança dos EUA tem sido a confiança de seus aliados na sua competência.
"Esse fracasso [...] irá manchar ainda mais a reputação dos EUA como país que sabe fazer as coisas de maneira eficiente", escreveu Walt na revista Foreign Policy.
Os EUA são o país mais afetado pela pandemia de coronavírus. Neste domingo (29), a potência americana já havia confirmado 124.686 casos da doença e 2.191 vítimas fatais. Os estados mais afetados são Nova York, Washington e Louisiana.