20/01/2020 às 15h01min - Atualizada em 20/01/2020 às 15h01min

De ‘história de pescador’ a mistério para ciência: entenda a onda que surpreendeu Laguna

Ondas "anormais" passaram a ser estudadas mais detalhadamente pela ciência nos anos 90; elas se "alimentam" da energia de outras ondas podendo, a depender da altura, amassar um navio

- 87 News
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A ciência ainda sabe pouco sobre o fenômeno que motivou a grande onda que atingiu a praia Mar Grosso e assustou os banhistas neste sábado (18), em Laguna, no Sul de SC. Monster wave (onda monstro),  freak wave (onda estranha), rogue wave (onda vampira), e “anormais” são alguns dos apelidos dados ao fenômeno.

Entretanto esse tipo de onda ainda não possui um nome científico e foi por muito tempo considerada “história de pescador”. A oceanografia passou a estudar o assunto a fundo há pouquíssimo tempo, a partir de 1995.

No primeiro dia daquele ano, pela primeira vez, uma onda vampira de 26 metros foi registrada pelos equipamentos de medição. O registro foi feito no mar Norte da Noruéga. O canal inglês BBC (British Broadcasting Corporation) fez a reconstrução da onda em documentário.

A viagem das ondas

Conforme o oceanógrafo Carlos de Araújo, da Epagri/Ciram, é necessário entender como as ondas se formam para então compreender o que é a rogue wave. As ondas são formadas devido a ação do vento sobre a superfície marítima.

Os pulsos de vento originam o “trem de ondas”: uma sequência entre cinco e sete ondas que viajam juntas pelo Oceano, sem dissiparem energia e com velocidades diferentes. É por isso que geralmente vemos um intervalo de tempo entre 15 a 30 segundos entre as sequências de ondas que atingem a beira da praia.

Praia do Mar Grosso, em Laguna, após a freak wave atingir a praia – Foto: Divulgação ND


As ondas percorrem o mar como se estivesse em uma maratona: partem juntas, mas depois de alguns quilômetros passam a ficar em “posições diferentes”, devido a velocidade. Em um momento dessa viagem as ondas atingem regiões mais rasas do mar. Então, a profundidade do oceano passa a “frear” o seu movimento, fazendo as ondas “empinarem”: elas ganham altura e, em seguida, começam a cair gradualmente.

Conforme Araújo, o tamanho dessas ondas é influenciado por três fatores: a intensidade do vento, a duração do vento e área que o vento está “influenciando a onda”.

“Tem como fazer uma analogia da onda com um carro. A área seria a pista: se o carro tem pouca pista, não dá para acelerar muito. Se a pista é maior, tem como acelerar mais. A força e a duração do vento seriam a marca do veículo, determinando o quanto consegue correr”, exemplifica Araújo.

“Freak wave”: a onde que se alimenta de todas as ondas

“Na freak wave, uma onda se alimenta de todo o trem de ondas. É uma onda imprevisível”, explica Araújo. No processo é como se uma onda somasse a energia de todas as outras do trem em uma só, afirma o oceanógrafo.

Entretanto, destaca Araújo, o que leva a essa “fusão” ainda é não é bem claro para a ciência. Sabe-se, entretanto,  que fatores como o vento local, a ação das correntes marítimas, a profundidade do oceano, a velocidade das ondas, entre outros fatores, influenciam o fenômeno.

Devido a energia acumulada, a onda pode causar fortes estragos. “Uma onda de 12 metros, por exemplo, tem uma pressão de seis toneladas por metro quadrado. Dá pra amassar um navio”, afirma Araújo. Caso a onda “quebre” na praia, os danos podem ser graves.

O fenômeno passou a ser estudado melhor na década de 2000. Na época foi lançado um satélite a partir de uma base europeia que contabilizava as freak waves. A conclusão dos pesquisadores foi que elas não eram tão raras como se imaginava.

Devido a falta de ondógrafos, dispositivo responsável pela medição da altura e da frequência das ondas, não há registros históricos do fenômeno em Santa Catarina. O único aparelho, utilizado pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) na praia da Armação, costa leste da Ilha de Florianópolis, foi desativado em 2006.


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