O dólar teve nesta sexta-feira a maior queda percentual diária de 2020, com o bom humor externo após dados melhores da China abrindo espaço para uma correção de baixa apenas um dia depois de a cotação escalar para acima de 4,20 reais.
O ajuste de baixa foi potencializado pelo nível “esticado” do dólar, medido pelo índice de força relativa (IFR) de 14 dias, que na véspera alcançou 65,9, máxima desde o fim de novembro passado.
O indicador vai de zero a 100. Leituras próximas de 70 sugerem que um ativo (no caso, o dólar) está com excesso de valorização, o que aumenta a probabilidade de realização de lucros.
O dia já começou positivo com dados da China. A segunda maior economia do mundo teve em 2019 o crescimento anual mais lento em quase três décadas, mas a atividade ganhou ritmo no último trimestre do ano. “Considerando que o resultado é pré-acordo com os EUA, o pior parece ter ficado para trás”, disse a XP em nota.
Outras moedas emergentes se valorizavam nesta sessão, com destaque para as latino-americanas, com peso mexicano, peso chileno e o real liderando os ganhos nos mercados globais de câmbio.
O dólar à vista fechou esta sexta em baixa de 0,63%, a 4,1648 reais na venda.
É a mais forte desvalorização desde 30 de dezembro do ano passado (-0,91%). Na véspera, a cotação bateu 4,2020 reais na venda, pico intradia desde 5 de dezembro de 2019.
Na B3, o dólar futuro de maior liquidez perdia 0,50%, a 4,1680 reais, nesta sessão.
As firmes altas dos últimos dias, porém, garantiram um dólar para cima nesta semana, período em que acumulou ganho de 1,73% —o mais forte desde a semana finda em 8 de novembro passado (+4,34%). É a terceira alta semanal consecutiva para o dólar, que em 2020 já se aprecia 3,79%, o que impõe ao real o pior desempenho entre 33 rivais.
Gabriel Gerzstein, chefe global de estratégia para mercados emergentes do BNP Paribas, até acredita em alguma apreciação para a moeda doméstica até o fim do ano, mas que seria guiada sobretudo por fatores externos.
Ele cita que a moeda brasileira perdeu atratividade pela redução do “carry” (retorno baseado na taxa de juros), num cenário de fluxo cambial negativo, ruídos na América Latina, estratégia de uso do câmbio como hedge de posições compradas em outros mercados (como bolsa de valores) e pagamento antecipado por empresas brasileiras de dívidas no exterior.
Em revisão de cenário, o Itaú Unibanco manteve estimativa de que o dólar fechará 2020 a 4,15 reais. “No curto prazo, os movimentos da moeda brasileira devem continuar relacionados à perspectiva de recuperação da economia”, disse o banco no relatório.