No Brasil, quase 11 milhões de jovens de 15 a 29 anos não estão ocupados no mercado de trabalho e nem estudando ou se qualificando, de acordo com a Pnad Contínua, suplemento Educação, realizada pelo IBGE em 2018. Esse grupo, que representa 23% da população do país nessa faixa etária, ficou conhecido como “nem-nem”, um termo que se tornou controverso e, por isso, seu uso vem sendo evitado.
A economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Joana Costa – uma das autoras do capítulo brasileiro da pesquisa internacional Millennials na América Latina e no Caribe: trabalhar ou estudar? – explica que o termo “nemnem” é a variação da sigla Neet (Not in Education, Employment, or Training), que surgiu na Inglaterra, nos anos 1990, durante as primeiras discussões sobre os jovens que não trabalhavam e nem estudavam.
Mas, para Joana, diferentemente da sigla inglesa, que usa termos técnicos e mais formais (se traduzidos seriam algo como “fora da educação, do emprego e da qualificação profissional”), a expressão em português acabou ganhando um tom pejorativo, por passar a ideia de que esses jovens são ociosos e que estão nessa situação, simplesmente, por vontade própria.
“O termo tanto em português (nem-nem), quanto em espanhol (nini) são ruins porque dão a ideia de que o problema é do jovem, como se ele não quisesse trabalhar ou estudar. É como se você estivesse culpando o jovem pela situação, sem olhar para as barreiras que ele está encontrando”, destaca a economista.
Barreiras para o estudo e para o trabalho
A analista da pesquisa do IBGE, Marina Águas, destaca que afazeres domésticos e cuidados de pessoas estão entre as principais barreiras enfrentadas pelos jovens para continuar os estudos ou arrumar um trabalho remunerado. Essa questão atinge principalmente as mulheres, que são maioria nessa situação.
“E ainda existe todo o estigma do que é o afazer doméstico. Como ele não é valorado como trabalho, parece que a pessoa fica em casa sem fazer nada. Mas isso pode ser muito custoso para a vida dela”, comenta, e completa: “Imagina: a pessoa tem que arrumar a casa, fazer comida para a família, botar a marmita do marido, cuidar dos filhos... Bota tudo isso no papel. Imagina o salário que ela precisaria ter para colocar outra pessoa fazendo as mesmas tarefas e, ainda, valer a pena ir para o mercado de trabalho”.
E esse é, justamente, o caso da carioca Luiza Perminio, de 27 anos. Há cerca de dois anos uma gravidez não planejada fez a jovem largar a faculdade e, desde que seu filho nasceu, ela passou a se dedicar integralmente à criança e à casa. Luiza explica que para conseguir trabalhar ou estudar precisaria colocar o filho em uma creche e ainda contratar alguém para ficar com ele no restante do tempo. “Seria só para dizer que eu estou trabalhando, pois basicamente pagaria para trabalhar. E ainda seria um serviço que a pessoa não faria da mesma forma que eu faço”, destaca.
Expectativas para o futuro
A economista Joana Costa afirma que tanto o desejo de voltar aos estudos e ao mercado de trabalho, quanto a descrença de que vai conseguir, estão presentes na maioria desses jovens – não só no Brasil, como nos demais países analisados na pesquisa de que participou. “Eles têm expectativas baixas em relação aos outros jovens, pois acreditam que exercem menos poder sobre os acontecimentos da vida deles e que têm menor capacidade em resolver problemas, em alcançar objetivos de longo prazo”, explica.
De acordo com Joana, não é possível definir se a situação que esses jovens vivem é causa ou consequência da baixa expectativa. Mas, para a economista, essa não é a questão mais importante para ser resolvida. “Seja um, seja outro, isso pode ser uma barreira para esses jovens saírem dessa condição. Então as políticas educacionais têm que ser pensadas para ajudá-los a superá-las”, aponta.