Após uma noite eleitoral eletrizante e um resultado com uma igualdade sem precedentes, será necessário esperar que o Tribunal Eleitoral examine todos os votos para anunciar o nome do vencedor das eleições presidenciais no Uruguai. Com 96% das urnas apuradas, às 23h30 de domingo, o resultado marcava um empate técnico, com uma pequena vantagem para o líder da coalizão de direita, Luis Lacalle Pou, com apenas 1,5 ponto a mais que seu rival Daniel Martinez, da Frente Ampla (partido de José Mujica). A margem é tão estreita que todos os votos deverão ser contados para se saber quem é o vencedor.
A diferença entre os candidatos é tão pequena que a definição dependerá dos votos observados, que são os dos que votaram fora de sua seção eleitoral. A quantidade desses votos é similar a distância entre Lacalle Pou e Daniel Martinez. Segundo o jornal uruguaio EL PAÍS, o resultado final só deverá ser conhecido na quinta ou na sexta-feira.
Foi uma reviravolta totalmente inesperada que aconteceu nas últimas 48 horas. Todas as pesquisas realizadas antes das eleições apontavam uma ampla vantagem de Lacalle Pou. É cedo para buscar explicações, mas primeiras especulações passam pelo voto oculto a favor da esquerda e o possível impacto de um vídeo do general Manini Ríos, que violou a proibição eleitoral ao pedir o voto dos soldados contra a Frente Ampla para marcar terreno diante de seus parceiros conservadores. Outro fator apontado é a mobilização de uruguaios do exterior, que viajaram para votar neste domingo em grande número.
De qualquer forma, as celebrações foram interrompidas na sede do Partido Nacional, e todo o país está esperando os resultados oficiais. As pesquisas publicadas na semana anterior à votação atribuíram de cinco a oito pontos de vantagem para Lacalle Pou, com um número de indecisos de cerca de 6%. Embora os resultados ainda sejam incertos, tudo indica que a Frente Ampla não alcançou a progressão necessária desde a primeira rodada eleitoral, realizada em 27 de outubro. Apesar de ter tido resultados melhores que os esperados esta noite, a esquerda, que conquistou três maiorias parlamentares consecutivas até as eleições, perdeu muitos eleitores desde as eleições de 2014.
A criação de uma coalizão em torno do líder do Partido Nacional, Luis Lacalle Pou, parecia o fator determinante para a reviravolta política no Uruguai. Com 28% dos votos no primeiro turno, o PN conseguiu adicionar na sua coalizão outro partido tradicional do Uruguai, o Partido Colorado, com 12% dos votos, e o Cabildo Abierto (10% dos votos). A formação conta com o apoio do general aposentado Manini Ríos, uma versão uruguaia de Bolsonaro, que defendeu os torturadores da ditadura uruguaia (1973-1984), é abertamente homofóbico e antifeminista. A coalizão também teve o apoio de vários pequenos partidos do arco conservador.
Luis Lacalle Pou, 46 anos, é um parlamentar experiente. Ele, que já era deputado aos 20 anos, foi candidato pelo Partido Nacional em 2014 numa eleição presidencial que perdeu para o atual presidente, Tabaré Vázquez. Ao votar neste domingo, Lacalle Pou disse que, em caso de vitória, não anunciará o nome de seus possíveis ministros. Assim, uma das principais incógnitas dessas eleições permanecerá: a articulação e o equilíbrio de poder dentro da coalizão de direita. Embora exista um programa comum dos partidos que a formam escrito logo após o primeiro turno, ainda permanecem questões sobre o conteúdo das medidas.
A ambição de Lacalle Pou e seus parceiros é reverter inúmeras políticas da Frente Ampla em questões-chave, como economia, educação, segurança cidadã ou políticas sociais. No entanto, a coalizão indicou que não anulará a chamada “agenda de direitos” implementada pela esquerda, que inclui leis como a descriminalização do aborto, o casamento gay e a proteção das pessoas trans.