“A reunião basicamente tem este objetivo: discutir a proposta que está elaborada nos projetos originais e fazer as modificações que tecnicamente sejam sugeridas. Daí usar a força política para fazer as modificações. Quando vier o momento da construção, o projeto está pronto”, explicou o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Julio Garcia (PSD).
O deputado Felipe Estevão (PSL) revelou ter se reunido recentemente com o ministro dos Transportes, Tarcísio Gomes de Freitas, e que a resposta foi que não há previsão de investimentos em ferrovias em Santa Catarina, apenas em rodovias.
“Isso pra nós é ruim. A briga agora é levar o que debatemos, o que deliberamos, para uma esfera federal, para que Santa Catarina também esteja inserida neste plano, no radar do governo de ter investimentos em ferrovias”, afirmou Estevão.
“Não é prioridade do governo federal, mas, a partir do momento que o governo federal decida ampliar a malha ferroviária em Santa Catarina, já teremos os projetos prontos, com as devidas correções”, completou Julio Garcia.
“O objetivo desta reunião é alinhar a base parlamentar aqui do Sul com relação a esse projeto, iniciado em 2002 num convênio entre o Estado de Santa Catarina e o Ministério dos Transportes”, explicou o diretor presidente da Ferrovia Tereza Cristina (FTC), Benony Schmitz Filho.
Bancada completa
Além dos dois deputados, participaram do encontro os parlamentares Ada de Luca (MDB), Jessé Lopes (PSL), José Milton Scheffer (PP), Luiz Fernando Vampiro (MDB), Rodrigo Minotto (PDT) e Volnei Weber (MDB). Eles foram unânimes em reconhecer a importância deste tipo de iniciativa.
Para Jessé Lopes, todo debate sobre desenvolvimento, principalmente econômico, é importante. “Sabemos que, às vezes, como parlamentares, não temos muito que fazer de forma efetiva. Mas levantar esse debate, levantar as bandeiras do desenvolvimento econômico é muito importante”, afirmou. “Com o novo governo desburocratizante, incentivador do empreendedorismo, vai se fazer mais necessário ainda o escoamento. Com certeza as ferrovias vêm a colaborar muito no desenvolvimento econômico”, completou.
Ada de Luca entende que o sonho de crescimento do transporte ferroviário é de todo brasileiro. “O primeiro mundo tem malha ferroviária para carga pesada, para carga leve, para passageiros e nós aqui somos esse atraso”, ressaltou a deputada, que também cobrou avanço na pauta discutida. “Falar por falar não adianta. É uma coisa que a gente tem que levar para Brasília também.”
Rodrigo Minotto elogiou a iniciativa e também cobrou que a discussão seja levada adiante. “Esse debate que se inicia aqui na Acic é importante para que a gente possa daqui fazer os devidos encaminhamentos e buscar junto aos órgãos competentes, seja em Santa Catarina, seja em Brasília, uma definição de projetos e ações que possam colaborar para o fortalecimento principalmente do setor ferroviário no Estado”.
A sugestão do deputado Luiz Fernando Vampiro foi de que seja dado à malha ferroviária – “sem investimento e totalmente obsoleta” – o mesmo tratamento destinado à malha rodoviária: a concessão à iniciativa privada. “Precisamos de uma modernização e de uma ampliação e a concessão à iniciativa privada, para que empresas nacionais e internacionais possam fazer a expansão dela e, obviamente, cobrar pelo transporte”, disse.
Volnei Weber lembrou a importância do transporte ferroviário para baratear custos de insumos como o milho, muito importante para a suinocultura e a avicultura da região Sul. “Precisamos trabalhar a ferrovia, que ela oportunize esses insumos chegarem num preço mais acessível para buscarmos competitividade”, ressaltou.
Para José Milton Scheffer, o encontro desta segunda-feira é um novo ponto de partida para o projeto que vai desenvolver a região Sul catarinense. “O Sul do Estado precisa desenvolver sua economia, e a logística é a principal ferramenta nesse sentido. Além dos portos, aeroportos, precisamos de ferrovia que nos ligue com o restante do país e também com o sistema portuário de Santa Catarina”, disse Scheffer.
Ele destacou a união da bancada e a disposição em destravar o debate. “Esse assunto que já está sendo discutido em Santa Catarina desde 2008,mas teve pouco avanço. Creio eu que a partir desta reunião teremos novo momento, nova forma de debater esse tema e de buscar uma solução para esse problema”, finalizou.
Projeto enfrenta questões ambientais
O projeto original contempla duas malhas ferroviárias principais em Santa Catarina. A primeira interligando a região de Imbituba até Araquari, e a outra ligando o litoral ao Oeste de Santa Catarina.
Na malha litorânea, são dois lotes. O primeiro entre Imbituba e Tijucas, e o segundo, de Tijucas a Araquari. Este segundo lote tem o projeto praticamente pronto. “Mas o trecho de Imbituba a Tijucas enfrentou problemas no Morro dos Cavalos em função da questão indígena. Não houve consenso junto à Funai de passar a ferrovia naquela região”, relembrou o diretor da FTC.
Para ele, este desacordo com a Funai levou o Ministério dos Transportes a estudar outra opção: a interligação da região Sul com o Planalto, chegando à região de Lages, e depois seguindo pela malha que iria do litoral ao Oeste.
Para o anfitrião da região, Moacir Dagostin, presidente da Acic, a melhoria do transporte ferroviário vai desenvolver não só o porto de Imbituba, mas todo o Estado. “A logística do Oeste, que está indo para os portos do Paraná, poderá utilizar os portos de Santa Catarina, gerando mais empregos, mais renda, mais impostos. Esses são os nossos objetivos”, avaliou Dagostin.
Outras prioridades
Para Schmitz, além de discutir as alternativas para crescimento do transporte ferroviário no Sul catarinense e em todo o estado, o encontro começou a dar forma a uma questão bastante importante: as prioridades de infraestrutura para Santa Catarina. Entre as opções listadas por ele, estão duplicar as rodovias, buscar outro modal terrestre que tenha maior capacidade de transporte ou mesmo usar o transporte aeroviário.
“São modais que têm suas características e custos diferentes. Qual o melhor para Santa Catarina? Isso que a gente tem que discutir. E sair desta inércia que não pode terminar o projeto por uma questão indígena, por causa do Morro dos Cavalos. Temos que buscar alternativa. E tem alternativa”, disse Schmitz.
A avaliação dele é de que não dá para deixar essa decisão e essa pressão apenas nas mãos dos empresários. “É importante que a classe política se envolva nisso, que toda a sociedade de Santa Catarina pense nisso e possa, futuramente, ter uma solução que seja melhor para o estado”, finalizou.