Maycon Coral
Hoje, pela manhã, acordei com uma musiquinha aporrinhadora na cabeça. Na verdade, já faz um tempo que durmo e desperto de tal modo. Uma voz fina mesclada com alguns roncos de porcos que me tiram a serenidade. Tentei esquecê-la durante todo o dia e não consegui, estava entranhado em minha mente, pois, quando me dava por mim, estava cantarolando. Foi quando senti a falta de escutar Raul e Legião Urbana como fazia há alguns anos atrás, no ápice da minha juventude
punk.
Hoje em dia, toda a minha cultura gira em torno de um desenho estrelado por porcos, deixei de assistir minhas séries, meus filmes e programas esportivos por um desenho infantil em que suínos rosados e de aparência muito excêntrica tentam entreter meu filho e a mim. O pior de tudo é que eles parecem querer ensinar algo bom às crianças e, se for este o propósito, acredito que não esteja dando certo, visto que a personagem principal do desenho me parece ser mimada, invejosa, birrenta e esperta demais para sua idade. Aí eu me pergunto: “O que um porco falante que não mora no chiqueiro, não vira comida e, ainda, dirige um carro, pode acrescentar à vida de meu filho?” A resposta é evidente, não acrescenta nada. Só me traz um pouco de sossego, assim, posso trabalhar tranquilo sabendo que meu filho está “seguro”, portanto, não preciso ficar com os olhos grudados nele, pois sei que meu filho só vai me chamar quando o vídeo travar ou para colocar de novo, e, quando isso não acontece, provavelmente, ele já dormiu.
A TV da minha casa não me pertence mais. É como se eu tivesse assinado um canal exclusivo de Peppa Pig 24 horas por dia. Vocês não têm noção do ódio que tenho quando ela fala “Oi, eu sou a Peppa, esse é meu irmãozinho George!”. Ainda me pergunto quem foi que apresentou a Peppa a meu filho. Aqui em casa garanto que não foi. Agora eu tenho um consumidor compulsivo dentro de casa.
Esses dias me deu saudade do seriado Chaves, aquilo sim era entretenimento. Eu não podia assistir quando eu queria, pois passava apenas uma vez por dia em TV aberta e eu não me esperneava e nem chorava feito louco para poder assistir, mas eu sempre estava lá esperando começar de banho tomado e comendo biscoito. Apresentei o Chaves versão desenho animado ao meu filho ele nem deu bola e me pediu para assistir aos porcos.